A mulher que lia o mundo

Dona Helena morava em uma casa simples, repleta de estantes abarrotadas de livros. Havia romances, aventuras, poesias e até velhos jornais amarelados. O relógio da parede também já não marcava as horas certas, mas ela sabia que, quando se lia, o tempo tinha outro ritmo.

Diferente de Dona Odete, sua antiga amiga, Dona Helena acreditava que cada livro era uma nova chance de viver outra vida. Lia por curiosidade, por prazer, por companhia. Dizia que os livros eram suas janelas abertas para o mundo, e que, por meio deles, conhecia lugares, culturas, sentimentos e pessoas que jamais encontraria no pequeno bairro onde vivia.

Quando as crianças do vizinho vinham visitá-la, ela as recebia com histórias que misturavam realidade e fantasia. Contava sobre o cavaleiro que não temia dragões, a menina que conversava com as estrelas e o velho marinheiro que ainda sonhava com o mar. Cada história vinha colorida por um trecho de livro, uma lembrança ou uma emoção.

— Vó, de onde vem tanta imaginação? — perguntava sua neta, encantada.

Ela sorria, fechava o livro e dizia:            — De cada página que li, de cada vida que conheci

sem precisar sair daqui.

Com o passar dos anos, suas histórias se tornaram mais vivas, mais cheias de sabedoria. As pessoas começaram a visitá-la não apenas para conversar, mas para ouvi-la. Como se suas palavras tivessem o poder de acender um pouco de luz no coração de quem a escutava.

Dona Helena envelheceu entre livros e lembranças, e quando alguém perguntava se ela não se cansava de ler tanto, respondia com doçura:           — Ler me faz viver mil vidas. E é por isso que, mesmo velha, continuo nova em cada história.

E assim, entre páginas e memórias, ela provava que quem lê não foge da vida, porém amplia-a. Porque ler é também viver, entretanto que com mais olhos, mais almas e mais mundos dentro de si.

Professora Clediane – Docente do CE Pe Anchieta – SLF e Escritora do blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/