Os sonhos, por vezes, brincam com nossa mente, transcendendo as barreiras da realidade. Nossas mentes, ao contrário de nossos corpos, têm a liberdade de se expandir e se retrair ao sabor de nossos pensamentos. Portanto, sonhar é algo que independe do corpo em si.
No ano de 2017, eu finalmente decidi retornar à escola depois de passar longos vinte anos exercendo outras atividades. Cheio de sonhos e esperanças, acreditei que minha vasta experiência e conhecimento adquiridos poderiam ser colocados em prática nesse ambiente escolar. Imaginava encontrar o mesmo clima acolhedor entre os colegas e alunos que havia sentido no passado. Ledo engano. Tudo havia mudado, e eu precisava mudar também. O problema era que meus sonhos estavam ancorados no passado, como um navio ancorado em um porto seguro.
Felizmente, encontrei no apoio emocional da minha família o suporte necessário para enfrentar os novos desafios. Chorei muitas vezes, perdi 9 kg pelo caminho e até mesmo me deparei com um princípio de depressão, que acabou se tornando profunda e ainda hoje em menor intensidade me assombra. Além disso, fiz significativos investimentos financeiros para cumprir com a missão que me propus.
Diferente de Ulisses na famosa epopeia de Homero, eu não precisei enfrentar monstros mitológicos ou desfazer feitiços para trilhar meu caminho. No entanto, em vários momentos, me vi perdido, assim como ele nas batalhas que enfrentou. Mas, para minha sorte, tive ao meu lado uma esposa valente, como a Penélope, e filhas prontas para me apoiar e inspirar. E não posso esquecer de mencionar minha companhia leal, a pequena pinscher "Mel", que nos deixou naquele fatídico ano. Ela era como o cão Argos de Ulisses, sempre me reconhecendo com intensa movimentação e um abanar do rabo para dizer que estava feliz pelo meu retorno.
Olhando para a situação de hoje, percebo que já perdi o que poderia ter sido. No entanto, se pudesse voltar no tempo como em um filme, eu escolheria permanecer na escola e nunca ter seguido o caminho da política. Afinal, na escola temos todas as ferramentas necessárias para mudar o mundo através do conhecimento, mesmo que esse trabalho seja muitas vezes exaustivo e pouco valorizado. As crianças e os jovens são cheias de encanto e complexidade, e se forem observados e guiados corretamente, tornam-se sementes produtivas capazes de realizar grandes feitos.
Já na política à medida que me aventurava nos meandros tortuosos e em seus territórios desconhecidos, percebi que o progresso material estava em alta, mas, infelizmente, a essência cultural das pessoas deixava a desejar. Tentei avaliar a situação, mas as aparências enganam. Conforme nos desenvolvemos, nossa visão de mundo se expande e podemos enxergar além do óbvio.
Atualmente, vejo a política como uma prisão, um labirinto onde somos implacavelmente julgados por diferentes grupos, nos tornando prisioneiros das nossas próprias decisões. Abandonamos nossas vidas para servir a causas que muitas vezes não são de competência dos governantes, mas... É claro que nem sempre a política é maliciosamente destrutiva; ela é uma necessidade. No entanto, não é um local para os sonhadores. Portanto, não há espaço para arrependimentos, apenas uma melancólica ponderação sobre as encruzilhadas que encontrei.
No entanto, onde houve perdas, também houve ganhos. Minha volta à educação foi um período de diálogo, amor ao próximo sem esperar nada em troca. Dizer que foi fácil seria hipocrisia. No entanto, ao fim dessa jornada, ficaram as lições. Como no rio de Heráclito Eu já não era o mesmo, os alunos também não eram iguais, assim como meus colegas. Constatei, enfim, que tudo evolui. Hoje, na escola, temos pais da geração Y, que dominam a tecnologia e seus filhos são da geração Z, enquanto nós, professores, nos esforçamos para entender esses fenômenos. O diálogo já não é mais olho no olho, mas virtual. O conhecimento é combatido com a informação, frequentemente disfarçada de desinformação.
Na escola como na esfera política. Sempre me esforcei para dar o meu melhor, mesmo sabendo que cometi erros e acertei em outras ocasiões. Agora, distante desses caminhos e ao final dessa jornada completamente satisfeito em meu isolamento, sinto-me como o expoente do cristianismo, Paulo de Tarso, em seu momento derradeiro. Fiz tudo o que estava ao meu alcance, mantendo minha essência e ampliando minha fé.
Porém não me contento em simplesmente buscar conhecimento, mas sim em produzi-lo para aqueles que também desejam combater a desinformação. Não busco apenas agradar ao público virtual, mas sim mergulhar nas profundezas da mente e do coração, onde tudo se origina.
Por fim, agradeço sinceramente pela jornada que percorri, pois, acabei descobrindo que minhas andanças por outros caminhos, serviram para fortalecer minha espiritualidade e intelectualidade, tal qual o mitológico Sísifo, que, após inúmeras tentativas frustradas, enfim compreendeu o propósito de sua eterna tarefa.
Um Sonhador Caminhando com Francisco
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