Em uma pequena cidade, onde a memória parecia se dissipar em meio à modernidade, vivia Floriano, um homem com o olhar ancorado no passado e no coração dos que ajudaram a construir aquele lugar.
Ele era mais que um observador: havia sido um líder, um artífice silencioso de uma história feita por mãos anônimas, muitas delas que agora pareciam esquecidas.
O tempo, contudo, havia distanciado Floriano das lideranças atuais e de suas decisões. Ele via o passado ser reformulado, desfeito com a simplicidade de uma assinatura.
Era um homem profundamente reflexivo, que valorizava as histórias enraizadas nas lutas e nos sacrifícios.
Quando soube que o antigo Centro Administrativo, local que abrigava décadas de esforços coletivos, seria demolido, uma tristeza profunda o invadiu. Para ele, aquele prédio não era apenas uma estrutura — era um símbolo da união, um lugar erguido com suor e determinação, que tinha testemunhado os primórdios de uma comunidade. O centro não era um simples amontoado de madeiras, mas uma marca da persistência de sua gente.
As mudanças vinham, umas após outras, sem deixar espaço para a reflexão. Floriano percebia que muitos dos novos líderes, por desconhecimento ou falta de apreço, encaravam as decisões como meras questões de conveniência.
Na tentativa de modernizar o espaço, ignoravam o impacto de apagar a própria identidade do lugar, substituindo memórias vivas por construções mais vistosas. Floriano não era contra o progresso, mas contra o apagamento de um legado que, a seus olhos, deveria ser honrado, não apagado.
Olhando para as construções ao redor, ele se perguntava o que fariam aqueles que agora ocupavam as cadeiras do poder, caso conhecessem os detalhes daquela jornada.
Se tivessem vivido os desafios de construir, em menos de um mês, um espaço onde pudessem servir a população. Floriano sabia que sua luta não era para salvar o passado, mas para garantir que ele fosse compreendido e respeitado.
Ao final de sua vida pública, Floriano sentia-se cansado, mas ao mesmo tempo liberto das amarras da responsabilidade.
A pressão de manter as coisas como sempre haviam sido já não era um fardo que desejava carregar. Não pretendia lutar contra os ventos do tempo, mas deixar um registro — uma lembrança para os que viessem depois.
Queria que um dia, quando as gerações futuras olhassem para trás, entendessem que aquele “velho tolo” não era contra o desenvolvimento, mas a favor de uma história construída com consciência e respeito.
Floriano se retirou das atividades públicas com o coração em paz, não mais como um líder, mas como um guardião silencioso da memória.
Entendia que o futuro era daqueles que ainda precisavam aprender a valorizar o ontem. Ele era apenas alguém que se recusava a consentir com a indiferença e, em sua despedida, desejava que o tempo confirmasse suas convicções. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, a história voltaria a cobrar de todos o respeito que sempre mereceu.
Para refletir:
Você sabia?
Que a área onde está o prédio do Centro Administrativo pertenceu à Família Arisi e serviu como Subprefeitura e Subdelegacia durante o período distrital de nosso município?
Que a terraplanagem do espaço foi feita com um trator de esteiras da Madeireira Damo por Valdir V. Bleich, o "Chiquinho”?
Que a construção foi erguida em 19 dias, entre 12/12/1992 e 31/12/1992, pelos irmãos Pazolini e dezenas de voluntários da comunidade?
Que, apesar das piadas de lideranças de municípios vizinhos sobre a nossa capacidade de construir um centro administrativo, nosso primeiro prefeito, vereadores e lideranças descerraram a placa inaugural em 01/01/1993, instalando nosso município?
Para pensar:
Existem espaços urbanos que poderiam abrigar o novo empreendimento, bastando buscar alternativas e destinar recursos para aquisição.
Há outras atividades que poderiam ser relocadas do terreno contiguo, preservando o prédio e ampliando sua funcionalidade.
E se transformássemos o Centro Administrativo em um memorial? Ele poderia resgatar equipamentos antigos, como símbolo de uma história de simplicidade e humanidade que nos define.
Ou, ao menos, poderíamos considerar construir uma réplica no lago municipal, honrando e eternizando a memória desse ícone comunitário.
Então, qual será o nosso caminho? Deixaremos que a pressa de um novo projeto apague nossa memória, ou assumiremos o papel de guardiões do legado que Floriano e tantos outros prezam?
Um último respirar!
Paulo Roberto Savaris - Um sonhador que conhece a história
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