top of page

Consciência Negra ou Negra Consciência?

Quando lembrar exige conhecer — e conhecer exige coragem.

ree

Há datas que não deveriam ser feriados, mas espelhos. O Dia da Consciência Negra é uma delas. Não se trata apenas de celebrar, mas de recordar — e sobretudo de reconhecer. Reconhecer o que fomos, o que somos e o que ainda evitamos enxergar.

Antes de falarmos de consciência, é honesto perguntar: temos realmente consciência do que significou — e ainda significa — ser negro no Brasil? Ou vivemos apenas uma negra consciência, aquela que dói quando percebemos as sombras que não tivemos coragem de iluminar?

Laurentino Gomes lembra que o Brasil foi “o maior porto escravista da história”. José do Patrocínio denunciava a “infâmia da escravidão”. Maria Firmina dos Reis rompia o silêncio literário com humanidade. Machado de Assis aprendeu que, para sobreviver, às vezes era preciso calar.

E nós? O que aprendemos com eles? Será que aprendemos?

Novas formas de escravidão: a corrente invisível

A escravidão formal acabou, mas suas sombras ganharam novos nomes. Hoje, o chicote não marca a pele — marca a alma.

Persistem:– a escravidão do salário indigno,– a escravidão das periferias esquecidas,– a escravidão das oportunidades negadas pela cor,– a escravidão mental que normaliza o preconceito.

E talvez a mais perigosa: a escravidão ideológica, que transforma racismo em opinião, intolerância em virtude e agressão em coragem.

Jesus nos alertava: “Não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas o que sai dela.”E o que tem saído revela autosuficiência, arrogância e interpretações religiosas usadas para dominar e justificar injustiças.

Durante séculos, repetiu-se o mito perverso de que negros “não tinham alma” por serem “filhos de Cam”.Uma desculpa teológica para esconder a amputação da própria espiritualidade.

 

Um fato real que ainda dói

Numa escola pública do interior, uma professora pediu que cada aluno descrevesse um herói brasileiro. Um menino de nove anos respondeu:

Meu herói é meu pai, que é pedreiro. Ele trabalha muito e nunca deixa faltar comida em casa.

A sala silenciou.Uma colega murmurou, achando que ninguém ouviria:

Mas ele é negro…

O menino ouviu. E abaixou os olhos.

Não foi apenas ele que se encolheu — foi a história inteira do Brasil, mais uma vez repetindo um roteiro que fingimos não existir.

Esse episódio é real. E não revela maldade infantil, mas a naturalização do preconceito transmitido como herança cultural.

Por que ainda precisamos parar para pensar?

Porque, como diria Jung, tudo o que não enfrentamos continua atuando nas sombras. E, seguindo Freud, o que negamos ressurge como sintoma.

Talvez por isso frases racistas brotem “sem intenção: quando a boca escandaliza, é porque o coração ainda não foi curado.

Jesus permanece como o único capaz de iluminar aquilo que transformamos em muro. E, como o homem rico que implorou a Lázaro uma segunda chance, talvez perceberemos — tarde demais — que o maior julgamento não será sobre o que conquistamos, mas sobre quem ferimos.

Perguntas para um exame de consciência

– O que realmente celebramos quando falamos em “Consciência Negra”?– Estamos dispostos a conhecer a história para além das narrativas confortáveis?– Quantas vezes silenciei alguém sem perceber, apenas por sua cor?– Que mundo construo com as palavras que digo — e com as que deixo de dizer?– Que mudanças a minha fé me convida a fazer hoje?

Esta reflexão faz parte da nossa série “Espiritualidade e Vida”.

Leia também:

Escravidão na Contemporaneidade:

Inscreva-se para receber conteúdos que unem fé, amor e esperança.

 

ree

 
 
 

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação

Caminhando com Francisco

caminhandocomfrancisco.com

©2023 por Caminhando com Francisco. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page