
Falar sobre escravidão no mundo atual pode parecer antiquado ou inadequado. Contudo, ao refletirmos sobre o tema, percebemos que existem novas e diversificadas formas de escravidão, diferentes daquelas do passado que aprisionavam e castigavam fisicamente as pessoas, impedindo-as de serem livres, de terem opiniões e de controlarem seus próprios destinos.
Hoje, a escravidão está oculta, disfarçada e distorcida. Frequentemente, ela tem raízes em questões culturais, interpretações errôneas e ideologias descabidas. Esta nova forma de escravidão é desafiadora para o nosso contexto atual, sendo alimentada e sustentada pela tecnologia, pelas redes sociais, pela busca desenfreada pelo dinheiro e pelo culto à própria imagem física. Tudo isso contribui para a perpetuação das injustiças e das desigualdades sociais.
Indubitavelmente, as redes sociais, que muitas vezes idealizam a realidade, levaram as pessoas a perderem a autenticidade, pois passaram a se comparar umas com as outras. Cada um de nós possui qualificações e potencialidades únicas, com propósitos próprios. No entanto, quando começamos a viver com base na vida dos outros e na busca pela perfeição, deixamos de nos dedicar às nossas próprias capacidades. Na internet, essas pessoas "exemplares" também são imperfeitas, apenas não mostram isso.
A humanidade sacrificou os deuses imateriais e ocupou o templo com o “deus mercado”, que organiza a economia, a vida financeira e a aparência de felicidade. Parece que nascemos apenas para consumir. E quando não podemos, carregamos a frustração, a pobreza e a autoexclusão. José Mujica ressalta esse ponto com clareza.
As novas formas de escravidão nos fazem desatentos aos prejuízos do uso excessivo das tecnologias, das redes sociais, e à veneração de um corpo perfeito e de uma felicidade permanente para exibir ao mundo. Nesse contexto de representação, sonhos, objetivos e interesses pessoais se ocultam, tornando-se uma realidade de ilusões e nos transformando em escravos contemporâneos.
O psiquiatra Augusto Cury nos alerta sobre as consequências de uma preocupação excessiva com a beleza, um problema cruel do mundo moderno. Portanto, é fundamental manter o equilíbrio, evitando excessos e prejuízos. Devemos ser leitores críticos de nossa realidade, evitando cair nas armadilhas das novas formas de escravidão do mundo moderno.
Precisamos lutar por ideologias que nos edifiquem e nos façam evoluir como seres humanos e profissionais. Atitudes baseadas em valores como humildade, empatia, generosidade e solidariedade são o que nos tornam grandes. Nossa luta deve ser por uma vida digna, mais plena, em que nos sintamos livres para sermos quem somos, sem nos envergonharmos de nossa condição e aparência, sem nos compararmos a ninguém.
Cury nos ensina que a beleza está nos olhos de quem vê e que devemos nos apaixonar pela nossa própria história, pois cada ser humano é único no palco da existência.
"Era um sonho dantesco... O tombadilhoQue das luzernas avermelha o brilho
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite
Horrendos a dançar..."(Castro Alves em O Navio Negreiro)
A escravidão persiste, apenas mudaram suas formas.
Professora Clediane - Escritora do blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/
Somos escravos de nós mesmos. Muito bom o texto, continue assim!!
Texto excelente 👏🏻