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HISTÓRIAS DA VILA DO POVO FELIZ (2): FAMÍLIA CARVALHO

Foto do escritor: caminhandocomfrancisco.com/ caminhandocomfrancisco.com/

Atualizado: 21 de fev. de 2024


No final dos anos 70, um casal de meia-idade, com cabelos grisalhos, decidira iniciar uma nova vida na pacata Vila do Povo Feliz. A bordo de um majestoso caminhão D 60, vermelho como o rubi, eles trouxeram consigo seus vários filhos e filhas. Vindos do Rio Grande Amado, sua chegada representava uma busca por uma vida melhor.

Infelizmente, se depararam com um povoado em declínio. As madeireiras, que outrora sustentavam a comunidade, haviam fechado suas portas, obrigando seus proprietários a procurarem outros meios de sustento. Com esse cenário adverso, era preciso ser persistente.

Apesar das dificuldades, o senhor do caminhão vermelho encontrou uma maneira de prover sua família. Durante a temporada de colheita, ele fazia fretes para os comerciantes locais, transportando produtos pelos caminhos precários da época. Nas demais ocasiões, fazia pequenas mudanças, enquanto seus filhos crescidos buscavam trabalho na construção civil, mecânica.... Assim, juntos, eles conseguiram manter uma vida digna, mesmo com recursos limitados.

No entanto, a família acabou enfrentando tempos mais duros, assim como tantas outras daquela época. Foi necessário buscar um novo horizonte. Seguindo o fluxo natural da vida, o patriarca, já próximo dos 60 anos, foi forçado a vender seu amado caminhão, seu tesouro de valor inestimável. Em seu coração, certamente houve dor, mas não havia outra alternativa. Assim, partiram para uma região distante, conhecida por sua indústria calçadista e que já abrigava outros retirantes que haviam desbravado caminhos antes deles. Nesse novo lar, eles encontraram felicidade, apesar dos desafios inerentes à vida. Uma das filhas, cujos cabelos quando jovem batiam a cintura, infelizmente, perdeu um filho cedo na vida, uma ferida que jamais cicatrizará. Porém, hoje, ela cuida amorosamente do senhorzinho do caminhão vermelho, que agora beira os 90 e poucos anos. Ele toma seu mate à beira do fogão a lenha, regando diariamente a árvore favorita no quintal. Ele escuta Liu e Léo, Gildo de Freitas, Teixeirinha, Tonico e Tinoco..., e sua mente revisita as lembranças dos tempos difíceis.

Graças à sua força de vontade, como o cerne de uma madeira nobre - um símbolo de seu nome -, ele conseguiu viver feliz, hoje já sem sua amada, curte os dias em suas próprias memórias.

Essa história é parte da minha própria vida. Essas pessoas moravam ao lado da minha casa, fomos colegas de escola, jogamos futebol e colecionamos tampinhas do Coronel Cintra e do Pateta. Também guardamos figurinhas dos lendários atletas do meu amado time, o glorioso internacional Gaúcho, e, claro, das estrelas rivais do Grêmio Porto-alegrense.

A vida tem uma maneira incrível de nos mostrar que não precisamos de muito para sermos felizes, apenas do necessário. Pode parecer utópico pensar que uma família conseguiu enfrentar tantas adversidades e criar seus filhos com tão poucos recursos, graças ao trabalho árduo de um homem e seu fiel caminhão.

Mas acredite, é possível. Apenas os verdadeiros homens compreendem o valor de trabalhar e lutar por um ideal, não importando quão simples ele seja. E são esses indivíduos que serão abençoados, assim como as crianças de coração puro que Jesus mencionou. No Reino dos Céus, eles terão um lugar especial reservado.


Um Sonhador Caminhando com Francisco



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