Por que o brasileiro lê tão pouco? A apatia pela leitura e o custo social da ignorância
- caminhandocomfrancisco.com/

- há 3 dias
- 4 min de leitura

Há um paradoxo que grita em letras maiúsculas: somos um país com grande produção cultural, com escritores, editoras e feiras literárias pulsando, mas, ao mesmo tempo, patinamos no hábito da leitura e na compreensão de texto. Essa apatia pela leitura não é apenas um problema educacional — é um sintoma cultural profundo. Talvez explique, em grande parte, as disfunções sociais, os radicalismos e a superficialidade de pensamento que marcam o Brasil de hoje.
📚 Os dados que não mentem
Segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), 29% dos brasileiros entre 15 e 64 anos são analfabetos funcionais — ou seja, conseguem ler palavras ou frases simples, mas não compreendem textos mais complexos. Em outras palavras: quase um terço da população adulta tem dificuldade de entender o que lê.
O que mais espanta é o contraste regional. No Nordeste, o índice chega a 42%, e no Sul, considerado uma das regiões mais ricas e desenvolvidas do país, 35% da população está nessa condição. É a contradição viva do Brasil: riqueza econômica e pobreza de leitura caminhando lado a lado. De que serve tanto progresso material se a mente ainda vive na penumbra da ignorância?
A pesquisa mostra ainda que, entre os jovens de 15 a 29 anos, o analfabetismo funcional subiu de 14% em 2018 para 16% em 2024.E mesmo entre pessoas com ensino superior, apenas 61% atingem o nível considerado “pleno” de alfabetização funcional.Ou seja: estamos formando profissionais que leem, mas não compreendem.
💸 O Brasil que lê pouco e investe menos ainda
Segundo levantamento da Câmara Brasileira do Livro (CBL), apenas 16% da população acima de 18 anos comprou ao menos um livro nos últimos 12 meses.Desses, 69% adquiriram entre 1 e 5 livros por ano. Os motivos mais citados para não comprar:
Falta de tempo (31,8%);
Acesso gratuito pela internet (32,4%);
Preço (16,7%).
Mas será mesmo o preço o vilão? Vivemos em um país onde se gasta R$ 30 em qualquer coisa irrelevante, mas não se investe R$ 1 em livros. O problema talvez não seja o custo, mas a falta de prioridade cultural.
E antes que alguém diga “o pobre não tem como comprar”, vale lembrar: a classe média, que consome tecnologia, viagens e streaming, quase não investe nada em cultura. O consumo cultural é raso — e a superficialidade virou hábito nacional.
🧠 As consequências da falta de leitura
A falta de leitura e o analfabetismo funcional não são apenas estatísticas tristes; são raízes de um problema civilizatório. Em uma sociedade que lê pouco, cresce a desinformação, a intolerância e a vulnerabilidade política.
📉 Capacidade crítica reduzida: 29% da população não consegue interpretar bem um texto — como esperar debates conscientes e discernimento político?
🧃 Consumo superficial: Quem não lê com profundidade tende a consumir cultura de forma rasa — vídeos curtos, manchetes, frases soltas.
🕳️ Vazio cultural: A ausência de leitura cria um interior vazio, facilmente preenchido por fake news, discursos de ódio e teorias conspiratórias.
🎭 Ignorância travestida de opinião: É assim que prosperam crenças absurdas: que “as urnas são fraudadas”, “a vacina não funciona” ou que “a escravidão foi ficção histórica”.
Ler é um ato de resistência — e não ler é abrir mão da liberdade.
🌱 Sementes de esperança: a leitura como caminho de transformação
Apesar do cenário desafiador, nem tudo é deserto. Em várias partes do país, brotam iniciativas que cultivam o amor pela leitura:
Bibliotecas comunitárias e projetos de mediação de leitura em bairros periféricos.
O trabalho do Instituto Pró-Livro, que há anos promove a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil e ações de incentivo.
Campanhas de doação de livros e clubes de leitura que florescem em escolas, universidades, igrejas e praças.
São pequenas luzes em meio à penumbra — sinais de que a mudança é possível, quando há vontade e propósito.
✋ Caminhos práticos: comece por você
Se quisermos um país leitor, precisamos começar de dentro para fora.Eis cinco passos simples, mas poderosos, para cultivar o hábito da leitura e multiplicá-lo:
📖 Desafie-se a ler um livro por mês.
👥 Monte um clube de leitura com amigos, colegas ou na sua comunidade paroquial.
💝 Doe livros que já leu para uma biblioteca pública ou projeto social.
🎁 Presenteie uma criança com um livro.
📚 Divulgue autores e booktubers brasileiros — quem compartilha leitura, espalha consciência.
🙏 A leitura como ato espiritual e comunitário
Para o leitor do Caminhando com Francisco, a leitura também é um ato de fé. Desde os primeiros monges e teólogos, a tradição cristã valoriza a Lectio Divina — o exercício da leitura meditativa, que transforma texto em oração e sabedoria em vida. Ler é escutar. Ao mergulharmos na história do outro, exercitamos a empatia, a humildade e o amor — virtudes essenciais para quem deseja caminhar em direção à paz.
E, assim como Francisco de Assis via no diálogo o início da reconciliação, a leitura nos reconcilia com o mundo e conosco mesmos. Cada página lida é uma semente plantada em solo fértil de consciência e compaixão.
🌎 Conclusão: ler é libertar-se
Se a região Sul, próspera e industrializada, exibe 35% de analfabetismo funcional, fica claro que riqueza sem leitura é apenas aparência. Um povo que não lê não se emancipa, não cria, não lidera. E sem leitura, a riqueza é vazia e o pensamento é frágil.
Por isso, a pergunta ecoa: Será que desejamos aquilo que não oferecemos?
Queremos um país mais justo, culto e inteligente — então que cada um de nós comece pelo próprio exemplo. A mudança começa em silêncio, entre as páginas de um livro, e se expande como luz. Ler é um ato de esperança, fé e liberdade. E, quem sabe, livro a livro, possamos construir um Brasil mais consciente, compassivo e humano.
📚 Fontes de pesquisa
Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) – Fundação Itaú Social / Ação Educativa, dados de 2024.
UNICEF Brasil – “Analfabetismo funcional alcança 29% dos brasileiros e permanece no mesmo patamar desde 2018” (2024).
UOL Educação – “Estagnado, Brasil tem 29% de analfabetos funcionais; pandemia piorou quadro” (maio/2025).
Câmara Brasileira do Livro (CBL) – “16% dos brasileiros compraram ao menos um livro em 12 meses” (2024).
Associação Nacional de Livrarias (ANL) – Pesquisa de consumo cultural (2025).
Instituto Pró-Livro / Itaú Cultural – Retratos da Leitura no Brasil, 5ª edição (2023).
TV Brasil / Agência EBC – “Brasil perde mais de sete milhões de leitores em cinco anos” (2024).




Comentários