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HISTÓRIAS DA VILA DO POVO FELIZ (1): FAMÍLIA PADILHA BOENO

Atualizado: 21 de fev.


Aos domingos, na parte da tarde dos verões na Vila do Povo Feliz, além do futebol, nos diversos campinhos de terra que peregrinávamos com nossas bolas de borrachas, pés descalços e traves improvisadas, fazíamos nossa alegria com as moedinhas que ganhávamos indo comprar um picolé gelado, aromatizado e colorido com o famoso Ki-suco e os deliciosos sorvetes preparados pelas mãos habilidosas da matriarca mãe de três lindas meninas.

Tínhamos que fazer uma caminhada já que o Bar se localizava em um extremo da vila, lá para as bandas de Santa Catarina, mas antes e depois do futebol era certa que por lá passaríamos, claro se restasse moedas na primeira compra, pois as vezes os olhos brilhavam e o dinheirinho era deixado na compra de outras guloseimas expostas no baleiro.

Essa família vivia feliz no povoado, até que uma noite fatídica o patriarca de forma súbita veio falecer, lembro-me do féretro um dia chuvoso de muita comoção, já que o homem era muito querido por nós jovens, mas também pelos moradores em especial os homens que todos os dias passavam tomar suas pinguinhas e conversar sobre o cotidiano, lembrar que nesse bar a Copa do Mundo de 1974, havia sido assistida por gente apinhada até nas janelas, graças ao improviso de um TV alimentada a bateria.

Sem dúvida um baque para toda a família, principalmente para a esposa, já que as filhas já estavam adolescentes, mas a vida precisava continuar, mantiveram um tempo a atividade, e nós também adolescentes já não íamos somente comprar picolé e sorvete, mas para jogar truco, tomar vaca preta e minuano laranja, que só havia nesse caloroso ambiente, e claro também para contemplar as belas jovens e vislumbrar alguma possibilidade de namorico, mas isso era quase impossível pois a mãe era rígida na defesa das filhas e elas nos tratavam de forma educada não nos dando chances de qualquer aproximação.

Uma delas em especial foi uma das melhores amigas na escola. Sentávamos sempre juntos na frente da sala, eu por ter problemas de visão e ela por opção. Éramos uma dupla perfeita. Além de termos uma caligrafia diminuta, mas legível, nos dávamos muito bem. Sempre fazíamos os trabalhos em conjunto. Eu e ela éramos fãs de vários cantores famosos da época, como: Carlos Alexandre, Dalto, Gilliard, José Augusto, Júlio César, Márcio Greyk, Ritchie, Roberto Carlos e, especialmente, Silvio Brito. Uma música dele em especial se tornou a nossa favorita: "Sou filho da corrente que na vertente do rio cai, sou sertanejo e não vejo a hora de sermos todos iguais". Nos bailes do CTG, éramos inseparáveis na pista de dança. Ela dançava tão bem que era uma verdadeira inspiração.

Mas seguindo os caminhos que muitas famílias fizeram naquele período tiveram de percorrer rumo a melhores perspectivas, deixaram a Vila do Povo Feliz e foram para uma cidade maior em busca de oportunidades.

Hoje de longe acompanho e vejo que a vida lhes foi generosa e que o esforço desprendido por essa mãe guerreira fez dessas hoje mulheres pessoas de grande espiritualidade, inclusive uma foi catequista de meus sobrinhos, outra vejo que tem um empreendimento junto com seu esposo na área de mecânica e a mais jovenzinha delas vive no Nordeste de nosso amado país e posta fotos com seu Príncipe Aviador como na bela história do Pequeno Príncipe de Exupéry.

Admito que me emocionei ao contar dessa lembrança, mas me revigorei em lembrar que Deus é sempre bom e age de forma justa aqueles que fazem de sua vida uma dedicação plena não somente a ele, mas ao próximo.

Um Sonhador caminhando com Francisco

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