“El Carrapicho: O Terror dos Palanques e Amigo da Viatura

”As aventuras de El Carrapicho nos comícios da Vila do Povo Feliz

Quem viveu os finais da década de 70 na Vila do Povo Feliz sabe: comício bom tinha três coisas garantidas — cachaça de graça, pão com linguiça e promessas de fazer o céu descer à terra.

E no meio dessa mistura política e etílica, brilhava a figura inconfundível de El Carrapicho: cego de um olho, manco de uma perna, com uma faca sempre na cinta, mas um coração maior que o salão da igreja. Trabalhador das lavouras, arrancador de inços, frequentador assíduo das festas e dos copos — era folclore vivo.

Naquela noite, o comício pegava fogo sob o porão da antiga igrejinha de madeira. O candidato a prefeito — que por sinal era patrão do Carrapicho — prometia tudo: asfalto, ponte, posto de saúde, colégio novo, praça com chafariz. E a cada promessa… lá do fundo surgia o famoso grito:

— “Duvido!”

— “Vou transformar essa vila na capital do progresso!”— “Duvido!”

— “Ninguém mais vai precisar ir à cidade pra se tratar!”— “Duvido!”

O povo ria, os assessores se contorciam.— “Respeita, homem! É teu patrão!”

Mas El Carrapicho já tinha vencido o medo com umas boas doses de coragem líquida. Até que alguém no palanque, com tino, mandou a cartada:

— “Se continuar, vamos chamar a polícia!”

Silêncio. Só se ouviu o tilintar de um copo vazio sendo pousado no chão.Carrapicho puxou o boné, ajeitou a faca na cinta e, com a cara mais sincera do mundo, soltou:

— “Essa eu acredito.”

O salão veio abaixo. Riso de adulto, gargalhada de criança. O comício virou festa. A política perdeu a pompa, mas ganhou poesia.

No fim, El Carrapicho votou no patrão — que perdeu. Mas ele garantiu seu lugar na história como o bêbado mais lúcido da política da Vila do Povo Feliz.

🙏 Um Sonhador, Caminhando com Francisco