🪶 E Se Fosse Comigo?
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Uma reflexão sobre o julgamento, a empatia e o olhar de Cristo
Vivemos tempos em que muitos parecem prontos para julgar, ainda antes de compreender. As pedras agora são digitais — lançadas em comentários, postagens e conversas apressadas. São palavras afiadas, cheias de certezas, e quase sempre vazias de escuta.
Jesus, diante da mulher acusada de adultério, não a defendeu com discursos, mas com um gesto que desarmou os corações mais duros:
“Aquele que dentre vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra.” (João 8:7)
Um a um, todos se afastaram — porque a verdade de Cristo não humilha, transforma. E talvez essa seja uma das maiores lições do Evangelho: ninguém se eleva diminuindo o outro.
A psicologia nos ensina que o julgamento é muitas vezes um espelho invertido. Quando apontamos o erro alheio com veemência, estamos, na verdade, tentando afastar de nós algo que incomoda — uma dor, uma fragilidade, um medo. A sociologia, por sua vez, lembra que em tempos de insegurança coletiva, é comum buscar culpados visíveis: alguém a quem responsabilizar pelos males do mundo, ou simplesmente pelo desconforto que sentimos em nós mesmos.
Mas... e se fosse comigo? Será que manteríamos o mesmo tom, a mesma fúria, a mesma sentença?
Pensemos em um exemplo simples:uma mãe sozinha, que perdeu o emprego e, sem recursos, comete um erro que a expõe nas redes sociais.Em minutos, surgem milhares de comentários: “incompetente”, “irresponsável”, “merece o que tem”.Poucos se perguntam o que a levou até ali — as noites sem dormir, a solidão, o medo, o desespero de quem tenta sustentar um filho.A distância entre o julgamento e a empatia é curta, mas exige um passo em direção ao coração.
Empatia não é justificar o erro — é compreender o humano que erra. É a capacidade de olhar para o outro e reconhecer nele um fragmento de nós mesmos. Como dizia Viktor Frankl, sobrevivente dos campos de concentração:
“Entre o estímulo e a resposta existe um espaço. É nesse espaço que reside nossa liberdade e nosso poder de escolher nossa resposta.”
Praticar a empatia no dia a dia é exercitar esse espaço de liberdade. É segurar a palavra antes de atirá-la. É ouvir antes de responder. É buscar entender a história antes de emitir um juízo. É imaginar, por um instante, a dor, a luta, o contexto do outro — e perceber que a vida, às vezes, empurra pessoas boas a lugares difíceis.
Nosso mundo não carece de opiniões. Carece de olhares que enxerguem além do erro. Não precisamos de mais vozes que gritem justiça; precisamos de corações que aprendam misericórdia. Porque, como ensina a psicologia profunda, somente o que está dentro repercute fora — quem carrega paz espalha paz, quem guarda veneno, envenena o ambiente à sua volta.
Antes de comentar, de criticar ou de repetir um julgamento coletivo, talvez devêssemos respirar fundo e perguntar:
“E se fosse comigo?”
Se estivéssemos no lugar do acusado, do diferente, do excluído — ainda seríamos tão duros? Ou perceberíamos que o erro humano não é o fim da estrada, mas o início de um aprendizado?
No fundo, julgar é fácil, compreender é divino. E talvez seja isso que Jesus quis nos ensinar ao silenciar a multidão: que só quem reconhece a própria sombra é capaz de acender uma luz verdadeira.
O mundo não precisa de mais pedras — precisa de mãos que acolham, de palavras que curem, de gestos que pacifiquem. E de pessoas que, mesmo feridas, escolham ser luz quando a escuridão tenta cercar. 🌿




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