A velha que não lia livros
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Dona Odete era uma senhora solitária que morava na mesma casa havia mais de cinquenta anos. O relógio da parede já não marcava as horas certas, mas, afinal, quem se importa com o relógio quando o tempo passa devagar?
Os vizinhos, curiosos, diziam que a velha passava os dias mergulhada em livros, viajando por histórias sem fim. Entretanto, a verdade era bem outra. Dona Odete costumava afirmar, com um sorriso maroto:— Livros são histórias para juntar poeira e enfeitar estantes vazias. Eu já vivi o bastante, não preciso de mais histórias.
Mesmo assim, quando alguém lhe fazia uma visita, ela se transformava em uma contadora nata. Suas palavras vinham carregadas de lembranças e emoções: relatos de amores antigos, festas de São João, vizinhos de outros tempos e segredos que o vento parecia guardar nas frestas da casa. Quem a ouvia saía dali com a sensação de ter lido um livro inteiro.
Um dia, sua neta chegou empolgada, segurando um volume novo nas mãos: — Olha, vó! Trouxe um livro incrível pra você. A história é maravilhosa, tenho certeza de que vai gostar!
Dona Odete sorriu, acariciou a capa do livro e respondeu com serenidade: — Minha filha, eu não leio livros... porque já vivi todos eles.
Naquele instante, a neta compreendeu o que ninguém antes havia percebido: Dona Odete não lia histórias — ela era feita delas. Não as escritas em papel, mas as que o tempo guardou nas páginas invisíveis da memória.
✍️ Ellem Kruczkevicz – 9º ano – CE Padre Anchieta – SLF – PR



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