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UMA HISTÓRIA DE GLÓRIAS QUE O TEMPO NÃO APAGA NA VILA DO POVO FELIZ (25)

Foto do escritor: caminhandocomfrancisco.com/ caminhandocomfrancisco.com/

Atualizado: 12 de jun. de 2024


Na encantadora Vila do Povo Feliz, há uma narrativa de grandiosas conquistas que resistem bravamente ao passar do tempo. Em uma era onde os locais públicos de fé, cultura, entretenimento e esporte não estavam envoltos por política e interesses de grupos restritos, mas sim pela habilidade de líderes modestos e corajosos, e por benfeitores altruístas que doavam terrenos e ofereciam suporte voluntário para a construção de um ideal que beneficiasse os membros da comunidade e permitisse a participação dos demais cidadãos, desde que respeitando as normas estatutárias.

Não se tratava de máquinas governamentais ou funcionários remunerados, nem de verbas públicas, mas sim de dias árduos de trabalho, suor e esforço conjunto de voluntários, que usavam machados, enxadas e até máquinas precárias para realizar as tarefas.

Cada pedra removida, cada monte de terra depositado, cada pinheiro plantado representava o desejo de criar um espaço que fosse o palco de um legado marcado por muitas batalhas, transformadas em troféus exibidos com orgulho.

Olhando para essas conquistas, lembramos da dedicação daqueles que partiram e nos inspiramos a valorizar e compreender a história daqueles que nos precederam. Conhecer e honrar o passado é não apenas reconhecer, mas também agradecer o trabalho árduo realizado em um tempo em que a generosidade superava as vaidades, visando levar alegria em meio às adversidades.

É verdade que houve desentendimentos e lideranças tóxicas, mas o espírito de diálogo compreensivo prevalecia, tornando os espaços acolhedores e repletos de diversão.

Na fascinante época dos anos 60, um grupo de jovens visionários alimentava o sonho de ter um campo para desfrutar de emocionantes partidas de futebol. Influenciados pela gloriosa Copa de 1958, na qual o Brasil conquistou o título, e pelas lendas do futebol como Pelé, Garrincha e Nilton Santos, eles ansiavam por viver suas próprias glórias esportivas.

Surpreendentemente, ao escolher o nome do time, optaram por se inspirar em times do momento, como Santos ou Botafogo, ao invés das óbvias escolhas locais como Grêmio e Inter. A decisão final recaiu sobre Botafogo, em homenagem ao renomado ponta direita Garrincha.

O líder desse grupo era um contabilista de uma madeireira, futuro Vereador por Palma Sola e patrono da biblioteca municipal. Com generosidade e interesse social, uma família cedeu o espaço para a construção do tão almejado campo. Com ferramentas simples, como um pequeno trator, serrotes e enxadas, os jovens entusiastas, orientados pelos mais experientes, começaram a transformar o terreno em um cenário digno de seus sonhos.

Nomes como Arisi, Bernardon, Barbieri, Cenatti, Damo, Demartini, Ghizzi, Guimarães, Perondi, Rossetto, Tecchio, Varela e tantos outros se uniram para dar vida ao campo, onde a bola poderia rolar suavemente em meio à terra vermelha.

Destacavam-se os talentosos Jovino Moser e João Grilho, com suas habilidades distintas: um pela vigorosa presença no jogo e outro pela elegância como zagueiro, ostentando um pente de bolso em sua meia para retoques de vaidade nos momentos de pausa do jogo. Nas terras ao redor, as disputas acaloradas valiam até mesmo um garrafão de vinho, em meio à paixão e à camaradagem de uma comunidade unida pelo esporte.

Na história do futebol local, vários craques passaram pelos gramados, alguns mais brilhantes do que outros, mas todos dedicados ao time. As partidas eram disputadas de forma amistosa, com equipes como Juventus, Independente de Salgado Filho, Fronteira de Palma Sola, Avai do Tatetos, Sempre Alegre do Cerro Azul e Coxilha Negra, além de torneios muito aguardados por todos.

Os domingos eram repletos de alegria, com os times principais e reservas se reunindo nos bares do Adolfo e do Pascoalotto para embarcar nos caminhões abarrotados de jogadores e torcedores.

Durante as viagens pelas estradas de terra, os cânticos ecoavam, misturando músicas italianas, religiosas, sertanejas e gaúchas. O futebol, claro, era também um terreno fértil para encontros românticos, com moças embarcando na esperança de encontrar seu par no campo.

Esse foi um período dourado, que se estendeu até meados dos anos 80. Os troféus conquistados foram cuidadosamente exibidos pelo Professor Oreste Rossetto, prova de que as glórias do time foram fruto de habilidade e trabalho árduo, e não apenas de promoção midiática.

Mas nem tudo foram êxitos, como o trágico acidente na linha Coxilha Negra, que vitimou um torcedor e deixou vários atletas feridos. Ainda assim, o Botafogo se mantém como um ícone regional, marcando sua presença no cenário esportivo local.

A maior glória veio em 1978, no Campeonato disputado em Palma Sola. De forma invicta, o time conquistou o título ganhando a final da Associação Fronteira com um gol de cabeça de Luizinho, após um cruzamento perfeito de Zé Araújo.

Fui testemunha desse momento épico, em um jogo emocionante decidido na prorrogação, com falhas memoráveis do goleiro adversário. O campo de terra, marcado com cal e cercado por costaneiras, foi palco da minha maior lembrança daquele time que eu tanto amava.

Ver jogadores como João Sujeira (Leonilson, Darci), Zé Araújo (Clenio), Alcidão, Bianco, Darci (Elio), Serginho (Aloisio), Fantin (Itacir), Santa Catarina (Perin), Miltinho, Luizinho, Jair (Toni), Pasqualin, Clavio, Tintio, Alemão do Lajano... e tantos outros desfilando pelo campo aos domingos era a minha maior alegria. Sob a liderança marcante de Danilo Arisi e Darci Perondi, a memória daquela equipe permanecerá viva para sempre em nossos corações.

Infelizmente, a magia da Vila do Povo Feliz se dissipou com a transformação em Município, perdendo parte de seu brilho em 1987 após conquistar o vice-campeonato regional de Santa Catarina.

Com a transição para o novo nome, o time gradualmente deixou de existir fisicamente, restando apenas a estrutura física em meio a uma complicada batalha territorial que impediu sua utilização como bem público.

Felizmente, através do bom senso dos atuais gestores da Associação e da colaboração da Administração Municipal, tanto passada quanto atual, foi possível encontrar um equilíbrio para revitalizar o espaço. Assim, ele poderá ser utilizado para continuar a sua história grandiosa, criando novas memórias e resgatando os momentos gloriosos que um dia o caracterizaram.

É importante reconhecer e honrar aqueles que construíram o legado do passado, prestando nossas homenagens aos que já se foram e desejando sucesso aos novos responsáveis por manter viva a tradição.

A competição e o respeito devem ser os pilares desse lugar, mantendo a essência que aqueles que nos precederam deixaram como legado.

Todos nós fazemos parte desse processo de evolução, e ver a história sendo preservada e recontada é motivo de alegria. Cada administração, com seus acertos e equívocos, contribui para a construção desse espaço, mas é fundamental que a comunidade esteja consciente e engajada para garantir um futuro melhor que o passado.

O desenvolvimento vai além de simples obras físicas, ele está ligado à expansão do pensamento. É através da reflexão e do conhecimento que avançamos, preservando a história como referência para decisões mais acertadas. O respeito ao próximo é essencial, mas também é importante manter a individualidade e a autonomia de pensamento, valorizando a própria identidade diante das tentações efêmeras do sucesso material.

O verdadeiro progresso é aquele que transcende o tempo passageiro, rumo a uma eternidade onde a prestação de contas é pessoal e cada um é responsável por sua própria jornada.Parabéns aos verdadeiros botafoguenses por sua persistência e parabéns à gestão municipal por fornecer um espaço de qualidade para a comunidade.


Um Sonhador/torcedor Caminhando com Francisco - Escritor do blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/

 

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