
A história é composta por personagens principais, coadjuvantes e figurantes que muitas vezes são esquecidos. Pode ser fácil lembrar dos protagonistas, aqueles que se destacam na trama, mas é importante reconhecer que todas as conquistas coletivas são fruto do esforço conjunto de diversos indivíduos.
Alguns preferem a glória, enquanto outros optam pelo anonimato, mas é essencial valorizar todos aqueles que contribuíram de alguma forma para escrever a história, seja através de suas responsabilidades profissionais ou por meio de atitudes cidadãs significativas.
No atual cenário em que vivemos, é crucial resgatar a história para aqueles que buscam entender que os acontecimentos não surgem do nada, como por um passe de mágica, mas sim graças ao árduo trabalho de muitos indivíduos que dedicaram suas vidas em prol de uma causa maior.
Olhar para trás com uma perspectiva atual é verdadeiramente inspirador, pois revela a nossa força diante dos desafios que enfrentamos.
Diante de uma Vila em declínio e de um povo que já tinha vivido tempos melhores, mas que agora se via desesperançoso, com a diminuição da atividade econômica e a extinção do Ensino Médio, restava apenas uma saída: tornar-se um município.
Foi nesse momento de esperança que os políticos que nos representavam no legislativo Municipal de Salgado Filho, cada cidadão e entidade se uniram para dar o seu melhor, incluindo o protagonista desta história que lhes apresento.
Ainda jovem, como eu, enquanto eu me dedicava ao magistério, ele dedicava seu tempo ao serviço Eleitoral no Fórum da Comarca de Barracão.
Acompanhado de seu colega, um pouco mais novo que nós, esse servidor valoroso cedido pela Prefeitura de Barracão mostrou sua verdadeira essência durante o recadastramento para o Plebiscito.
Sacrificando seus finais de semana em família, ele visitava comunidades do interior, equipado apenas com sua máquina de escrever e formulários para cadastrar os eleitores que decidiriam o destino de nosso local.
Com sua paixão pelo time Colorado evidente em cada palavra e seu rosto avermelhado, ele podia parecer ríspido às vezes, especialmente quando alguém não trazia a documentação correta.
No entanto, sua gentileza sempre prevalecia após uma argumentação, acolhendo o eleitor para garantir sua participação no dia do plebiscito.
Em meio à missão de recadastrar os eleitores, um membro da Comissão de Emancipação foi extremamente prestativo ao emprestar um Fusca branco modelo 69 para facilitar a locomoção da equipe.
Porém, em alguns trechos onde a estrada não era acessível, foi necessário contar com a ajuda de um resistente Jeep verde 4x4 do nono Demartini.
O que era inicialmente um desafio se transformou em uma divertida aventura, repleta de solavancos e contemplação da bela paisagem do interior do nosso município.
Como integrante mais jovem da comissão, era minha responsabilidade acompanhar os colegas nos finais de semana nas comunidades do interior.
Para mim, era uma oportunidade de flertar com alguma garota, jogar truco ou tomar uma cerveja, quando não tínhamos eleitores para recadastrar na fila.
Lembro-me que seu colega dominava a máquina de escrever com maestria, sendo excepcionalmente ágil, impressionando a todos.
Após o trabalho, sempre encerrávamos o dia no CTG, onde era servido um jantar ou um lanche.
Naquela época, meus futuros sogros eram os ecônomos, tornando o momento festivo ainda mais especial. O balcão era decorado com garrafas de cerveja enfileiradas, algo que hoje em dia seria impensável devido à reação do organismo. No entanto, para nós, jovens, era algo normal.
Nesses momentos, a cantoria, as conversas políticas e as discussões sobre futebol dominavam o ambiente, trazendo uma sensação de esperança.
Enquanto simulávamos os resultados eleitorais, baseando-nos no recadastramento, percebíamos a opinião das comunidades que visitávamos.
Alguns moradores eram contrários e expressavam sua posição durante esses eventos, o que nos permitia ter uma ideia das perspectivas de votação.
Durante a eleição visando a emancipação de nossa Vila, prevista para o dia 8 de dezembro de 1991, fomos pegos de surpresa com o cancelamento pelo TRE/PR.
Foi necessário um recurso no TSE para garantir, de forma liminar, a nova data de 22 de dezembro para o plebiscito. A população, de maneira democrática e eficaz, decidiu pelo SIM, abrindo caminho para uma nova era.
Este foi um momento crucial, no qual o Fórum da Comarca de Barracão desempenhou papel fundamental para assegurar a realização do plebiscito ainda naquele ano, garantindo com isso as eleições para o Executivo e Legislativo no ano seguinte.
O ilustre homenageado desta história, um torcedor fervoroso pelo nosso lugar, esteve ao nosso lado nos momentos difíceis do cancelamento, bem como nas celebrações que marcaram o início de uma nova etapa para nossa Vila.
Ao longo dos anos em que estivemos ligados à Comarca de Barracão, pudemos contar sempre com a eficiência do seu trabalho no Cartório Eleitoral e mais tarde em outra função.
Sem dúvidas o ilustre homenageado foi um apoio indispensável para nossa juíza Dra. Branca, que se destacou por sua abordagem humanizada na gestão dos processos diários.
Ela seguia a lei, mas também tinha um olhar empático, quase maternal, que nem todos conseguiam compreender.
Apenas mentes avançadas são capazes de entender as verdadeiras intenções daqueles que têm autoridade, daqueles que a utilizam de forma sensata e não pela força.
Sua amizade é eternamente valorizada, sabemos que sua vida é muito mais do que apenas o Fórum da Comarca de Barracão.
Sua paixão pelo esporte e pela comunidade é admirável, especialmente sua contribuição para o BAC, que ainda hoje é lembrada como um grande sucesso.
Sua habilidade em mobilizar recursos para formar um time competitivo é verdadeiramente impressionante.
Recordar de você, mesmo nos instantes de tensão em que suas bochechas coravam e se perdia nas palavras e “bucha”, é resgatar uma época em que a busca pela excelência e pela justiça era constante.
Como não recordar as festas juninas, que nos convocavam a comparecer devidamente caracterizados, enquanto nos lambuzávamos com delícias para garantir que a celebração fluísse em meio a muita alegria e laços de amizade que se consolidavam nessas ocasiões?
Claro, nem sempre escapávamos dos ensaios que todos encaravam com certo receio, mas jamais por espontânea vontade.
Foste tu o "culpado" por nos privar da final do Campeonato Gaúcho de 2011, comandado por nosso eterno ídolo Falcão.
No entanto, no desfecho, tudo se resolveu: vencemos por 3 a 2 e, nos pênaltis, superamos nosso eterno rival.
A festividade, em outro momento, também foi um sucesso. Ah, que lembranças inesquecíveis desses momentos!
Entre tantas memórias, trago uma pitoresca, como aquela vez em que um Vereador de Marmeleiro, que fazia parte da Comissão do Não, foi até o fórum pedir uma lista de votantes.
Legalmente, você não poderia entregar a lista, então você teve a brilhante ideia de afixá-la nas paredes do fórum e convidar o Vereador a anotar os nomes, o que ele tentou fazer, mas desistiu ao perceber que eram cerca de 3.800 nomes. Sem dúvida, essa é uma história que merece ser contada.
Outra é relativa a um retorno de uma festa no interior, para levar e mensagem de apoio e discutir a viabilidade da criação do Município, as equipes se dividiam para participar e os funcionários do Fórum aproveitavam para fazer o cadastramento de eleitores.
Os dois jovens, como de costume, decidiram fazer uma pausa no CTG para tomar umas cervejinhas e jantar.
Nessa noite, um dos representantes da emancipação retornou um pouco nervoso, pois poucos membros da comissão haviam participado da festividade. Em um momento de exaltação, ele começou a cobrar os demais em público, mesmo após ouvirem as explicações sobre suas ausências.
O clima ficou tenso e, em um momento de imprudência, o defensor da criação do Município resolveu mostrar sua revolta de uma maneira um tanto peculiar: puxando seu revólver estilo cowboy do Velho Oeste americano.
Para sua sorte, o revólver acabou caindo no chão do CTG sem disparar.
No entanto, usar armas no CTG era estritamente proibido, e aquela situação poderia gerar um escândalo indesejado.
Como jovem Patrão do CTG, eu sabia que precisava intervir. Primeiro, fui até a casa do "fora da lei" e pedi que sua esposa fosse busca-lo.
Em seguida, junto com um amigo em um Voyage Preto, levamos os dois jovens para suas casas.
O protagonista dessa narrativa estava um pouco alterado na bebida e repetia a história, enquanto nós tentávamos amenizar a situação, dizendo que não tínhamos visto nada.
O episódio ficou marcado pela dúvida e sobre o guarda-chuva perdido que ficou no carro e nunca foi devolvido.
Quanto ao comportamento inadequado, na manhã seguinte reunimos a comissão e o causador da confusão para uma advertência verbal.
O foco principal sempre foi o resultado da emancipação, e apesar das pressões e adversidades, conseguimos finalizar com êxito nosso propósito, acalmando os ânimos e evitando conflitos que poderiam prejudicar nosso objetivo.
Querido Ivair, agradecemos imensamente por toda a ajuda prestada para que nosso projeto fosse um sucesso.
Sabemos que as mãos envolvidas foram muitas e que cada um teve sua contribuição nessa história que se construiu através de boas e más experiências.
No entanto, o mais importante é o legado que deixamos, pautado em nossas ações. São 36 anos de dedicação ao trabalho e suas escolhas sempre foram pautadas pelo melhor para todos.
Por isso, essa homenagem não é sobre vaidade, mas sim sobre reconhecimento da excelência em seu trabalho.
Eu, particularmente, sou muito grato a você, ao Cairo, à Dra. Branca, ao Valdir e a tantos outros que estiveram ao meu lado em momentos difíceis.
Guardo com afeto a memorável visita que recebi ao término do meu mandato, quando fui presenteado com o livro "Guerreiros da Luz", de Paulo Coelho.
Foi um gesto especial que chegou em um momento em que eu mais precisava e que jamais esquecerei, mesmo diante das adversidades que enfrentei.
Aprendi que nem sempre as decisões que consideramos ruins são, de fato, negativas. É preciso confiar nos desígnios de Deus e aceitar as mudanças que ele nos apresenta.
Desejo a você muito sucesso nessa nova fase de aposentadoria. Aproveite o tempo com os netos, cuide de sua saúde e mantenha a mente ativa.
A evolução pessoal é contínua e eu sei que você busca sempre melhorar e aprender. Lembre-se da importância da família, dos amigos e do amor incondicional.
Que Deus ilumine seu caminho e que a colheita dos seus feitos seja abundante. A vida é efêmera, mas deixe seu legado ser eterno.
Saiba que, no final das contas, somos todos humanos e temos um lugar de paz reservado para nós.
Que sua jornada seja repleta de bênçãos e realizações.
Um fraterno Abraço!
Paulo Roberto Savaris
Professor Aposentado
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