top of page
Foto do escritorcaminhandocomfrancisco.com/

Mãos que semeiam: Uma jornada de amor e dedicação


Somos agraciados com o dom de semear desde o momento em que nascemos. Quem nos dá à luz sempre deposita em nós uma esperança fervorosa de que nossa existência se converta em frutos abundantes. Nenhum indivíduo é destinado a ser uma semente estéril neste vasto jardim da vida, mas muitos acabam escolhendo terrenos inapropriados pela forma como conduzem suas próprias trajetórias.

É inegável que o ambiente em que vivemos exerce uma influência profunda na trajetória do pequeno broto. Se não for devidamente cuidado, por conta do acondicionamento inadequado (na estrutura familiar), da falta de nutrientes (amor) ou de irrigação (conhecimento), entre outros descuidos, esse broto acaba se tornando inútil. É como na famosa Parábola de Jesus, em que ele descreve a semente deixada à beira do caminho e prontamente roubada pelos pássaros abutres (representando vícios, prostituição, e assim por diante). Algumas sementes são lançadas em solo pedregoso (soberba, insensibilidade), outras são sufocadas pelos espinhos (relacionamentos tóxicos, intolerância, racismo...) e apenas aquelas que têm a sorte de encontrar um solo fértil se tornam espiritualizadas, encontram a felicidade mesmo com pouco e são capazes de multiplicar seus frutos.

O ativista argentino Adolfo Pérez Esquivel tem uma abordagem brilhante sobre o que fazer com nossos talentos, que podemos chamar de sementes. Ele nos faz refletir que só podemos semear se estivermos dispostos a abrir as mãos. E isso é interessante, porque tudo o que recebemos precisa ser acolhido de braços abertos, é um símbolo de abertura. Ao abrir os braços, mostramos receptividade, e ao abrir as mãos, estamos prontos para receber. Isso lembra a oração do Pai Nosso, onde nos dirigimos a Deus, dizendo "estamos aqui, nos dê o que precisamos, nada mais", mas também lembramos que os outros também têm necessidades. Aqui está a essência: transformar nossas sementes em algo que nos ajude, mas que não sufoque nosso próximo.

Recordo-me do inquietante diálogo entre o Pequeno Príncipe e sua amada Rosa, nas páginas imortais de Exupéry. Ali, eles contemplaram juntos a natureza espinhosa da vida, mas, ao contrário do senso comum, descobriram uma perspectiva inusitada. Os espinhos, inicialmente encarados como ameaças nocivas, desvelaram-se como sábios catalisadores de despertar. Sim, por vezes, é necessário sermos cutucados com vigor para que possamos emergir do sono letárgico, resplandecer com o olhar compassivo do coração e compreender que essas aparentes ameaças são, na realidade, um escudo carinhoso, dedicado à preservação do que se ama.

Mergulhar na arte de ser uma semente excepcional nos tempos atuais é, sem dúvida, desafiador. Requer coragem e determinação para "morrermos" momentaneamente, a fim de renascermos como frutos frescos e vibrantes. Esse processo ocorre quando tomamos consciência e transformamos o nosso próprio solo de existência. Evidentemente, essa escolha é extremamente pessoal, porém, se a compreendermos de forma profunda e agirmos de maneira constante, sustentada pela oração, amor ao próximo e valores inclusivos, nossa vida se tornará uma fértil constelação de significado. Se a semente, em sua grandiosa jornada, puder alimentar também os singelos pássaros que cruzarem seu caminho, ótimo! Mas jamais permitiremos que os abutres, habilmente disfarçados, venham nos enganar, manipulando-nos para que a nossa existência (a semente que somos) seja alinhada com seus obscuros interesses.

Portanto, não deixemos que essas artimanhas nos desviem do nosso propósito e valor intrínseco. Sejamos inteligentes ao percebermos as falsas seduções, permanecendo firmes e transformando-nos verdadeiramente em sementes cujos frutos serão colhidos com alegria e consciência.

Que sejamos sensíveis e astutos como o rei que decidiu testar suas pretendentes de casamento de uma forma inusitada. Ele entregou a cada uma delas uma semente e pediu que cuidassem dela até que algo brotasse. Passado algum tempo, diversas mulheres enganaram o rei, apresentando lindas flores como resultado de seus esforços. No entanto, a escolhida foi uma humilde e verdadeira pretendente, que entregou ao rei apenas a semente que recebeu. Ela não havia nascido, pois era estéril.

Essa história nos ensina uma valiosa lição sobre a importância da verdade em nossa caminhada. Devemos sempre cultivar a sinceridade como uma semente, permitindo que ela se multiplique e traga mais paz, amor e perdão ao mundo. Quando nos deparamos com os desafios da vida, é essencial lembrar que somos sementes de Deus, com o propósito de crescer e nos assemelhar a Ele em nossas ações.

César Romão, em sua obra "Sementinha de Deus", retrata de forma incrivelmente espiritualizada essa preciosa graça que recebemos do Divino. É uma reflexão inteligente que nos convida a refletir sobre nossa missão de crescimento e multiplicação, tornando-nos verdadeiros espelhos do amor e da bondade divina.

Aceitemos o chamado e nos tornemos as sementes divinas, germinando em nossas próprias vidas e nas vidas daqueles ao nosso redor. No fim de nossa jornada, poderemos colher os frutos de ter aproveitado plenamente essa existência que nos foi generosamente presenteada pela divindade, e que precisa ser vivida com gratidão.

Um sonhador caminhando com Francisco

Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
bottom of page