
Essa família chegou à Vila do Povo Feliz na década de 50 impulsionada pelo trabalho árduo. Com três irmãos e posteriormente uma irmã, juntamente com a matriarca, vindos da região de Videira - SC, onde a influência da cultura italiana era forte e o cultivo de uvas era o centro das atenções.
O trabalho era o motor que impulsionava os sonhos de uma vida melhor, enquanto a fé fornecia conforto em meio às dificuldades enfrentadas desde a juventude.
Diante das perdas e desafios, a família decidiu buscar novas oportunidades na vila cercada de pinheirais e de árvores exuberantes, encorajados pelos primos que possuíam extensas áreas de terras adquiridas dos pioneiros da região.
Em uma época em que a terra era abundante e desvalorizada, a transformação das densas florestas em pastagens para o gado era um empreendimento ambicioso.
Apesar dos obstáculos, esses destemidos homens se uniram a parentes que possuíam um Frigorífico no Rio Grande do Sul. O objetivo era desbravar as matas e criar gado para abate, contribuindo para o desenvolvimento da indústria rio-grandense.
A jornada era desafiadora, mas a determinação e o trabalho árduo eram o combustível que impulsionava esses visionários em busca de seu próprio pedaço de terra.
Com uma mistura de coragem e determinação, a família enfrentou os desafios com vigor e tenacidade, transformando um cenário de adversidades em oportunidades de crescimento e prosperidade.
Assim surgia a maior empresa da Vila, com uma imponente madeireira, extensos piquetes para a criação de gado e a extração de erva mate, uma refinada indústria que transformava madeira em papelão, proporcionando uma gama de empregos e transformando a vila em um centro próspero.
A chegada de um Posto de Combustível, oficinas mecânicas, hotéis, comércio de secos e molhados... só contribuíram para a expansão econômica entre 1950 e 1980.
Em seus áureos dias, era comum ver uma frota de caminhões transportando toras de madeira, destacando-se os imponentes FNM e F-8, estacionados nos dias chuvosos em frente ao Posto de Combustível e hotéis locais.
Enquanto as árvores caíam e se transformavam em materiais valiosos, a erva mate crescia e o gado se alimentava, impulsionando os negócios familiares.
No entanto, na década de 1970, em meio a uma transição devido ao declínio da atividade madeireira e ao fechamento da fábrica de papel, um novo ciclo se iniciava.
A produção agrícola, a criação de gado de corte e a produção de erva mate assumiram o protagonismo, garantindo a continuidade do progresso econômico dessa renomada empresa.
A transformação do trabalho rural foi marcada pela chegada da mecanização, substituindo o esforço braçal por máquinas potentes. O antigo som da caldeira anunciando o meio dia deu lugar ao ronco das colheitadeiras e tratores CBT e Ford.
Os caminhões, antes destinados ao transporte de madeira, agora carregavam grãos e bois em suas carrocerias.
Mesmo com a modernização, a condução das lavouras mantinha sua essência, com pouco uso de agrotóxicos e o controle de ervas daninhas feito manualmente.
A paisagem era de tirar o fôlego, com trabalhadores meticulosos entre as plantações, separando com cuidado as ervas daninhas da soja, como se estivessem separando o joio do trigo, relembrando as sábias palavras de Jesus em suas parábolas.
Durante um período de negócios prósperos, o gerente geral enfrentou uma tragédia quando sua esposa jovem e cheia de vitalidade optou por encerrar sua vida, deixando-o com a responsabilidade de criar seus cinco filhos.
Com a ajuda da mãe e dos avós maternos das crianças, ele conseguiu seguir em frente, apesar do fardo pesado que mudou o rumo de sua vida e de sua família.
Mesmo assim, sua capacidade de liderança não foi abalada, tanto que na metade da década 1970 ele foi eleito Prefeito de Palma Sola. Sempre dinâmico, ele continuou atuando no comando da empresa, com a ajuda dos irmãos que tinham funções específicas na condução das atividades e em seu cargo público, sendo visto frequentemente circulando em sua picape azul.
A empresa sempre se destacou por sua atuação comunitária, apoiando a construção de igrejas e pavilhões, além de oferecer cortes de árvores gratuitamente para a produção de tábuas.
Também doavam madeira quando necessário e surpreendiam com animais para leilões em festas, contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento social da vila.
Com a transição para o agronegócio, a empresa expandiu suas atividades, adquirindo novas áreas de terra. No início dos anos 90, houve uma mudança, com os membros da família decidindo seguir seus próprios caminhos após acordo com os antigos proprietários.Durante esse período, também houve uma sucessão política, com um dos herdeiros assumindo uma cadeira na Câmara de Vereadores de Palma Sola. Mais tarde, durante minha trajetória no legislativo municipal, tive o privilégio de compartilhar a bancada com outro descendente desse visionário. Já em meu primeiro mandato como prefeito, pude contar com a colaboração de mais um membro dessa proeminente família, o caçula, que seguiu os passos de seus antecessores.
Na jornada da vida, percorremos altos e baixos em busca do equilíbrio perfeito. Mas nem sempre a estabilidade está ao nosso alcance. Nesses momentos, é essencial conectar-se consigo mesmo - corpo, mente e espírito.
Quando esses elementos não estão alinhados, surge o desequilíbrio. Não se trata de julgar ou se culpar, mas sim de encarar os desafios que a vida nos apresenta e definir o que realmente importa.
O destino, para alguns, parece ser um fator determinante, mas na verdade é apenas nossa própria capacidade de nos observar e nos reconstruir. Temos o livre arbítrio e a capacidade de escolher entre manter o passado no passado ou criar um novo futuro. É essa escolha que nos permite transcender e evoluir.
Na trajetória dessa família de grandes seres humanos, a repetição de tragédias foi causada pelo desalinho mental que os atormentou. Infelizmente, avô paterno, o filho mais velho e a esposa optaram por encerrar suas vidas precocemente, deixando um vazio doloroso para aqueles que ficaram.
A ausência de explicações reconfortantes aumentou ainda mais a dor, afetando emocionalmente aqueles que continuaram a caminhada.
Dois jovens, meus colegas de escola, que tinham potencialidades únicas - um líder nato e o outro exímio mecânico - agora estão presos em suas próprias mentes, perdidos entre a realidade e a fantasia.
No entanto, a providência divina se faz presente, e agora são cuidados com dedicação pela irmã que abdicou de sua vida para manter viva a herança deixada por essa família de pioneiros.
Ainda hoje, podemos ver os vestígios dos empreendimentos desses bravos pioneiros que transformaram este local em um lugar próspero e vibrante.
O parquinho infantil construído pelo nono Fuhr, o campo de farelo de madeira, os açudes para pescar, as colheitas de pinhão e guabirobas - tudo isso faz parte da rica história deixada por essa família notável.
Hoje, as famílias desse clã seguem cada uma em suas atividades, mantendo viva a tradição de serem visionárias e trabalhadoras. Seja na igreja, no esporte com o saudoso Botafogo, ou na esfera social, sempre agiram em prol do bem-estar da comunidade.
Embora nem sempre concordassem de forma unânime, o consenso prevalecia em prol do bem maior.
Recordar essa família e sua contribuição para a história de glórias que vivemos é também lembrar que o desenvolvimento socioeconômico é fruto de dedicação incansável.
Os empregos gerados não apenas expandiram suas propriedades, mas permitiram que outras famílias construíssem seus próprios legados, tanto materiais quanto sociais e culturais.
Graças à formação de operadores de máquinas desde os primórdios do Município, muitos puderam contribuir para a melhoria do Setor Rodoviário Municipal.
Essa família, verdadeira guardiã do progresso local, deixou um legado de trabalho árduo e dedicação incansável, demonstrando que o sucesso é fruto do comprometimento e da união em prol de um bem comum.
Hoje em dia, ainda há vários parentes por aqui, mantendo viva a linhagem familiar. Cada ramo da árvore genealógica segue seu próprio curso, adaptando-se às circunstâncias atuais e abraçando novos princípios e ideais.
Minhas lembranças são apenas uma parte da história, sujeitas a falhas e imperfeições, mas ainda assim preciosas para manter vivo o legado familiar.
A vida é repleta de altos e baixos, presentes em todas as famílias e contextos, e é importante não julgar, mas sim cultivar o respeito mútuo.
Cada indivíduo carrega consigo uma bagagem única de experiências, desafios e alegrias, que só podem ser compreendidas plenamente quando vivenciadas.
Assim, é fundamental manter a compaixão e evitar julgamentos que não contribuem para um mundo mais justo e fraterno.
Afinal, somente expandindo nossas mentes e construindo relações solidárias poderemos construir um futuro melhor.
Um Sonhador Caminhando com Francisco - Escritor do blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/
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