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Histórias da Vila do Povo Feliz (51) - Família Dalbosco



Com a expansão da geração de empregos na agricultura, uma renomada empresa local liderava a transição das atividades madeireiras para a produção agrícola. Os vastos pinheirais e a madeira nativa deram lugar a extensas plantações, mas o trabalho árduo ainda prevalecia.

Enfrentar os resquícios das grandes árvores exigia habilidade e esforço manual, pois os tratores de esteiras ainda eram rudimentares. A limpeza das áreas de plantio era essencial, seguida pelo plantio de soja, demandando mais mão de obra e destreza dos operadores de tratores, que dominavam os robustos CBTs com maestria.

Se não bastasse a limpeza inicial, a manutenção do plantio exigia uma equipe dedicada. Sem produtos químicos, a remoção manual das ervas daninhas era essencial, com os trabalhadores reunindo-as em sacos pendurados em seus corpos. Uma tarefa árdua, lembrando a separação do trigo do joio na famosa parábola de Jesus.

Navegando pela maré de oportunidades de trabalho, um casal de italianos decidiu se aventurar provindo de uma região de concentração de povos indígenas no extremo Oeste Catarinense.

Deixaram uma das filhas na terra natal e, provavelmente através de indicações de parentes, venderam sua pequena propriedade para adquirir uma chácara na Vila, parte do território de Santa Catarina, onde criavam animais e cultivavam alimentos para subsistência. O patriarca logo conseguiu emprego como operador de trator em uma granja de grãos, enquanto a esposa, com a ajuda dos filhos, cuidava da propriedade.

A senhora, mesmo de baixa estatura, possuía uma voz poderosa que a fez se destacar no coral da igreja local, enquanto o senhor, também pequeno e calvo, com uma voz suave, conquistava amizades e se envolvia nas atividades esportivas, religiosas e culturais da Vila, incluindo o CTG. Em pouco tempo, esse casal simpático e trabalhador se tornou parte integrante e querida da comunidade.

Na sua relação amigável, eles conseguiram criar os filhos e levar uma vida simples e respeitável. Com o passar do tempo, os filhos seguiram caminhos diferentes, dois deles se estabeleceram em Francisco Beltrão para trabalhar e construíram suas próprias famílias, enquanto a filha mais nova fez concurso público e se tornou uma respeitada Técnica em Enfermagem do já Município.

Após se aposentarem, o casal assumiu o papel de ecônomos no CTG por um tempo, período em que tive o prazer de conhecê-los de perto, pois foi nesse momento que eu e minha esposa nos casamos e contamos com a valiosa ajuda deles na organização das festividades no CTG.

Mais tarde, eles se dedicaram ao Clube de Idosos, do qual eram fundadores e participantes ativos, além de contribuírem nas atividades da igreja, sendo sempre solícitos e envolvidos nas ações sociais e de evangelização. Seja no preparo do mondongo nas festas da igreja, no Jantar Italiano durante a Semana Farroupilha do CTG, ou na emocionante Missa Crioula liderada pelo saudoso Padre Leopoldo, esse casal sempre emprestava suas habilidades e paixão, tornando cada momento especial, unindo fé e tradição em homenagem ao Patrão Velho da Estância Celestial.

Nesses momentos, os lenços branco e vermelho dos Chimangos e Maragatos se entrelaçavam em um abraço de paz e união, simbolizando a harmonia que permeava a Vila.

Os tempos áureos da poesia, das jantas e dos bailes eram verdadeiramente inesquecíveis. As famílias, com sua simplicidade e devoção ao tradicionalismo, erguiam com perseverança os pilares dos valores que os motivavam a seguir em frente, mesmo diante das adversidades econômicas que assolavam a Vila.

Após alguns anos em Francisco Beltrão, os filhos decidiram regressar à sua terra natal. A filha mais velha abriu um salão de cabeleireiro e posteriormente em um mercado, enquanto o marido se aventurou na avicultura e o irmão voltou para o interior do município para seguir os passos na mesma área.O rapaz em questão foi meu companheiro de república durante minha estadia em Francisco Beltrão. Apesar de sua estatura baixa, desempenhava bem o papel de ponta esquerda, com um estilo de jogo parecido com o de Zé Sérgio, do São Paulo, nos finais dos anos 70 e início dos anos 80.

Recordo-me claramente de um torneio da Semana da Pátria em que ele, representando o 5º ano, e eu, o 6º ano, nos deparamos na final, que deveria ser disputada pelos alunos mais velhos do 7º e 8º ano. Por um acaso do destino, fomos os protagonistas desse embate, do qual saí vitorioso, conquistando minha primeira medalha, que guardo com afeto até os dias de hoje.

Esse jovem entusiasta e trabalhador, com a mesma serenidade na fala dos pais, decidiu retornar a Francisco Beltrão após um período dedicado ao trabalho.

Infelizmente, sua vida foi ceifada em um trágico acidente de carro, deixando para trás a esposa e os filhos. Uma perda inexplicável, que nos lembra que a normalidade pode se transformar em fatalidade a qualquer momento.

A morte prematura do rapaz abalou profundamente seus pais, especialmente o patriarca, que veio a falecer devido a um infarto em um domingo de manhã.

Sua partida pegou a todos de surpresa, já que ele desfrutava sua vida de maneira equilibrada ao lado da esposa e de uma das filhas, participando ativamente da comunidade e desfrutando de jogos de canastra e conversas com os amigos.

 

É nos momentos dolorosos como esses que somos confrontados com a incerteza da vida e a certeza da morte. Fica a reflexão sobre nossa preparação espiritual para enfrentar a partida, mas no caso desse senhor, não há dúvidas de que ele foi recebido na eternidade com grande júbilo.

Sua vida foi marcada pelo amor ao próximo, pelo respeito e pela retidão, e sua memória segue viva naqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo.

Após o falecimento do seu marido, a viúva e a filha decidiram vender a chácara nos arredores da cidade e se mudar para uma casa urbana na parte pertencente à Santa Catarina.

Mesmo na nova moradia, a senhorinha de cabelos ralos e crespos manteve sua rotina ativa, frequentando a igreja e o Clube de Idosos.

Com sua voz alta e melodiosa, ela encantava a todos com sua interpretação única da música “Mãezinha do Céu”, especialmente nos leilões e bingos da igreja, quando eu a provocava a cantar pelo menos um trecho dessa adorável canção.

A vida seguia seu curso normalmente, até que um acidente durante uma viagem para uma consulta médica mudou tudo.

O veículo em que ela estava se envolveu em uma colisão, parecendo apenas um susto no primeiro momento. No entanto, o cinto de segurança, que salvou sua vida no acidente, acabou rompendo seu baço, levando-a a morte.

Esse golpe foi mais um duro golpe para a família, que agora perdia não só o alicerce final, mas também a alma e o coração do lar. As lembranças desses queridos, simples e sempre presentes, continuam a ecoar na comunidade, deixando saudades e um vazio imensurável.

Com a perda da mãe, a filha que trabalhava na área de saúde decidiu mudar-se para uma cidade da fronteira para atuar na mesma área. Foi um momento de transformação, pois ela havia dedicado muitos anos cuidando dos pais e agora precisava se redescobrir.

Atualmente, vemos sua felicidade nas redes sociais, ao lado de seu marido, mostrando que o tempo é capaz de nos ajudar a nos reerguer e compreender que a vida é feita de ciclos que se encerram em determinados momentos.

Enquanto isso, a outra filha continua sua dedicação na APAE, orgulhosa do sucesso da filha que se tornou dentista.

Ela também está realizando o sonho de ter uma nova casa, onde poderá desfrutar da aposentadoria ao lado de seu marido.

Lembrar dessa família nos faz ter a certeza de que a grandiosidade não está apenas em feitos grandiosos, mas sim na simplicidade e humildade com que conduzem suas vidas.

Eles deixaram um legado que transcende o tempo, mostrando que as verdadeiras obras não precisam ser físicas para serem eternizadas.

Enquanto muitos preferem seguir um caminho mais fácil, cantando o que agrada aos ouvidos, essa família nos ensina que a verdadeira essência está em ser autêntico e simples.


Um Sonhador Caminhando com Francisco - Escritor do blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/

 

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