Na esteira do crescimento das atividades agrícolas, impulsionado pela necessidade de expandir terras devido ao aumento da família e as oportunidades oferecidas pela mecanização agrícola, diversas famílias da região de Humaitá e São Martinho, no Rio Grande do Sul, decidiram se estabelecer na Vila do Povo Feliz.
Aqui, buscavam residir para que seus filhos pudessem estudar e adquiriam terras próximas, onde podiam produzir para se sustentar e ampliar suas propriedades, com o objetivo de dar lugar aos filhos que estavam começando suas próprias famílias.
Essa família chegou à Vila nos anos 70 em busca de novas oportunidades, mesmo em um período de declínio, devido ao fim do ciclo da madeira.
As terras ainda não produziam como em outras regiões, devido à dificuldade de acesso ao calcário e ao adubo, causada pelas longas distâncias até as minas e as indústrias.
Além disso, a falta de linhas de crédito em um momento conturbado, marcado por constantes mudanças nas políticas de financiamento devido a especulações dos grandes proprietários, tornava a situação ainda mais desafiadora.
No entanto, por ser uma propriedade mista, era possível manter a produção essencial nas áreas mais íngremes com menos investimentos, enquanto se preparava gradualmente o solo das áreas mais acessíveis. Essa estratégia inteligente e planejada permitiu que a família superasse os desafios iniciais e começasse a prosperar em meio às adversidades do ambiente rural.
Com apenas o filho mais novo e um modesto trator e parceiro e eles conseguiam cuidar das áreas de terra deles, do filho mais velho e do genro que morava nas proximidades.
Esses foram tempos de grandes avanços, não apenas em termos materiais, mas também na integração com a comunidade.
O início do CTG, a participação ativa na igreja e no futebol fizeram com que essa família se tornasse parte essencial do meio em que viviam.
A casa original ficava perto do que hoje é o Posto Arisi, uma propriedade que foi posteriormente vendida para o subdelegado, cuja história já foi contada e que era nativo da mesma região.
Apesar de sua pequena estatura, ele era um visionário que já havia exercido o cargo de vereador em sua cidade natal, mostrando-se como um líder nato e afável.
No entanto, liderança não era seu foco nessas terras, deixando essa tarefa para seu sucessor no futuro.
Minha lembrança mais marcante é vê-lo dirigindo sua caminhonete vermelha C-10 pelas estradas de terra, já que naquela época não havia asfalto na BR.
Curiosamente, ele não mantinha as mãos no volante, trocando de posição a cada movimento do veículo, como se estivesse dançando com as mãos para o ato de dirigir, devido à sua constituição um pouco robusta e a barriga que tocava o volante.
Meus pais o tinham como um cliente fiel, um homem de boa índole que tinha um parceiro em sua propriedade.
Infelizmente, esse parceiro acabou falecendo após ir trabalhar para outra família. No dia de sua partida, os familiares do falecido procuraram meu pai para ajudá-los com os preparativos do velório, já que ele era uma figura simples, mas respeitada na comunidade.
A imagem desse dia permanece vívida em minha mente: um homem alto e já entrando na terceira idade, emanando uma serenidade única.
Suas filhas e filhos eram meus colegas de turma, e recordo-me claramente de como duas delas, após o triste falecimento do pai, decidiram se aventurar em Salgado Filho, em busca de novas oportunidades.
O protagonista dessa história, um homem amado por todos antes de sua partida, enfrentou a tragédia de perder um filho jovem para uma doença degenerativa.
Seu filho, lateral direito do Botafogo local e campeão do histórico campeonato de 1978 em Palma Sola.
O talentoso jogador e agricultor era famoso por sua integridade e tinha como esposa a filha de imigrantes alemães locais.
Tive a sorte de ter o primogênito desse senhor como parceiro de estudos, um prodígio que seguia os passos do pai, revelando-se um atleta forte e tecnicamente habilidoso.
A história dessa família certamente renderá uma narrativa fascinante no futuro. O Casal mesmo com a perda do filho, ele e sua amada esposa enfrentaram bravamente os desafios dos difíceis anos 80.
Infelizmente, ele veio a falecer, deixando a propriedade para o filho mais novo, que se mudou para Francisco Beltrão, onde trabalhou em um frigorífico por muitos anos. Lá, ele se casou com uma jovem da vila, cuja história de sua família prometo narrar em meu blog no futuro.
Enquanto isso, a esposa do protagonista, conhecida por um nome que remetia a um país europeu, começou uma nova vida ao lado de um viúvo e expedicionário da vila, após ter ficado viúva.
Assim, ela seguiu em frente até que ele veio a falecer alguns anos depois.
Nesse período, a maioria de seus familiares já não residiam no município, mas o filho mais novo decidiu retornar e se aventurar na política, sendo eleito vereador por vários mandatos.
Assim, a história de seu pai continuou a ser escrita.
Atualmente, essa liderança política ainda se destaca, mesmo não sendo filho biológico, ele herda do pai não só a calma, mas também o carisma.
Tem o dom de se relacionar com todos, embora siga um caminho próprio, honra a essência da família que chegou aqui para deixar sua marca na história.
As lembranças são abundantes, mas a verdadeira história está nos atos. Hoje, os netos e bisnetos mantêm viva a tradição, principalmente no CTG, onde o lenço, a bombacha e o vestido são símbolos de respeito e tradição.
O churrasco e a música são as ferramentas para construir amizades e manter viva a chama dos antepassados.
Cada um de nós é parte de uma história enraizada no passado, e só depende de nós regar nossas escolhas com amor para fazê-la florescer.
Contemplar essa família é testemunhar o sucesso da neta como uma competente dentista, outros netos espalhados pelo Mato Grosso e arredores, deixando sua marca nas histórias familiares, e uma bisneta empreendedora administrando com maestria alguns negócios na região.
Observar os tataranetos seguindo a tradição gaúcha é perceber que a história se repete com um toque contemporâneo.
Essa família, como tantas outras, nos faz refletir sobre a efemeridade da vida e a importância de estar presente no momento presente.
As lembranças são apenas lembranças, algo intangível, mas carregadas de significado que vai além do material.
A jornada da vida, repleta de virtudes, erros e acertos, molda quem somos e nos lembra que somos seres falíveis, influenciados pelo meio em que vivemos e pelas escolhas que fazemos ao longo do caminho.
A liberdade de escolha nos permite moldar nossa própria história, definindo os rumos que desejamos seguir.
Um Sonhador Caminhando com Francisco - Escritor do blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/
Bela história parabéns paulo !
Lembranças boas do meu saudoso avô