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HISTÓRIAS DA VILA DO POVO FELIZ (46) - FAMÍLIA GHIZZI


De origem gaúcha, chegaram com esperança e determinação nos anos 60, dando início a uma história de sucesso e brilho em meio à efervescente comunidade.

Enquanto a agricultura de subsistência cedia lugar para a comercial, impulsionada pela transformação das áreas agricultáveis, as oportunidades floresciam para todos que aqui se instalavam.

Com mais renda disponível, o comércio local se fortalecia, proporcionando uma variedade de opções para os consumidores locais, desde postos de gasolina e hotéis até pequenos mercados e lojas de vestuário.

O ritmo da evolução era contagiante, assim como a energia dessa família vibrante, que soube navegar com maestria entre tradição e modernidade.

Nesse cenário próspero, essa nova família chega, trazendo consigo uma forte ligação com o trabalho e a fé, algo comum entre os novos moradores desta terra de esperança.

Aqui, eles encontram oportunidades para criar suas famílias e abrir caminhos para o futuro de seus filhos. Os desafios são grandes no início, construir uma clientela, administrar os recursos para garantir uma vida digna, até que as coisas melhorem e o negócio prospere mais do que o necessário para a subsistência.

No entanto, esses desafios são apenas detalhes para os patriarcas, que confiam no instinto comercial do líder da família e na fé inabalável da matriarca. Ela não só cativa a todos com seu sotaque italiano marcante, mas também usa sua fé como um apoio para enfrentar as noites mais sombrias da vida.

Com o sucesso dos negócios em pleno crescimento, a família começou a investir em terras na região da Linha Tracutinga, um lugar próspero e promissor.

As oportunidades se multiplicavam, permitindo que os filhos se dedicassem à agricultura enquanto os pais continuavam com suas atividades. Com o tempo, decidiram vender o negócio e fixar residência permanente no interior.

Ergueram uma imponente casa de alvenaria, uma verdadeira obra-prima para a época, espaçosa e cuidadosamente planejada, com um vibrante tom alaranjado.

O novo lar acolhia toda a família, e aos poucos foram construindo moradias para os filhos recém-casados, formando uma verdadeira comunidade no terreno plano, após uma descida íngreme, à direita, próximo a um bosque de nozes. Ali, a criação de suínos se tornou a principal fonte de renda.

Com o avançar dos anos e a chegada da aposentadoria, o casal e a maioria dos filhos começaram a buscar novos caminhos no início dos anos 80. Alguns filhos se mudaram para Pato Branco, enquanto outros adquiriram um comércio na Vila que havia pertencido a um dos pioneiros locais, cuja história já contei.

Enquanto isso, o patriarca comprou um bar nas proximidades do negócio dos filhos, dando início a uma nova fase de vida focada não apenas na agricultura, mas também na atividade comercial.

À medida que os anos passaram e as atividades começaram a entrar em declínio, os filhos decidiram se desfazer do comércio. Enquanto isso, o patriarca enfrentava problemas de saúde, passando gradualmente suas responsabilidades para os filhos.

O filho mais velho se mudou para o interior de Salgado Filho, onde se envolveu na atividade avícola, que estava passando por uma significativa expansão na época.

Um dos filhos decidiu se aventurar como taxista, enquanto sua filha se uniu a um rapaz que também trabalhava no ramo.

Pouco tempo depois, o filho mais novo se casou com uma moça da cidade, de uma família com experiência no comércio e transporte, e se mudou para Pato Branco para ajudar seu irmão a administrar o famoso ponto comercial "Sábia".

 O estabelecimento levava o nome devido ao jeito simples e cativante do protagonista, que conquistava clientes com seu assobio característico. Enquanto isso, outro irmão seguia carreira no mundo bancário.

A veia empreendedora dos descendentes de italianos é inegável, mas infelizmente a longevidade não é uma de suas características marcantes.

Com perdas dolorosas ao longo dos anos, o primeiro deles partiu jovem em um trágico acidente durante uma partida de futebol, deixando sua marca eternizada no Estádio Municipal de Salgado Filho.

O amor pelo futebol sempre foi uma paixão ardente para esses indivíduos, com muitos deles se destacando nos times locais como o Guarani da Linha Tracutinga e o Botafogo, transformando o esporte em uma forma de fazer amizades, se divertir e viver intensamente aquilo que mais amavam.

Nesses momentos de profunda despedida, que atingiram o ápice com a partida do nono nos anos 90, a nona viúva encontrou refúgio na residência da filha.

Mesmo após a perda do marido, ela permaneceu ativa na igreja local, cantando no coral e assumindo outras funções sociais até seu falecimento nos anos 2000.

Enquanto isso, o irmão mais velho, cujo negócio avícola prosperou e tendo mudado para outro local, também partiu, deixando um legado para que seus filhos continuassem sua obra.

Um dos irmãos mais velhos da família foi um visionário que marcou a história da vila ao construir o primeiro prédio de dois pisos em alvenaria.

Ele era conhecido por suas atividades no ramo de bar e bolão, até vender a terra onde a família foi criada para investir em empreendimentos no Município.

Sua partida precoce deixou saudades em todos que o admiravam, especialmente por sua paixão inabalável pelo time colorado e sua breve incursão na política local.

Assim seguia o curso da vida para essa adorável família. Um dos filhos, taxista, optou por se mudar com sua esposa para a região norte de Santa Catarina, onde hoje vivem com entusiasmo ao lado de seus familiares. Sua esposa, que foi minha professora substituta em alguns períodos, compartilha dessa jornada com ele.

Infelizmente, os últimos anos têm sido marcados por tragédias para essa família. O filho mais novo perdeu sua esposa e durante a pandemia de COVID-19, o bancário faleceu vítima desse vírus avassalador, a filha e cuidadora da mãe sucumbiu após uma longa batalha contra o câncer, e recentemente o querido "Sábia" nos deixou repentinamente devido a um infarto.

Nesses momentos difíceis, a inteligência dessa família está em sua capacidade de encontrar força uns nos outros e seguir em frente, apesar das perdas devastadoras que enfrentaram.

Sempre que narro uma história, faço questão de inserir a morte como uma lembrança inevitável da finitude humana. No entanto, há ocasiões em que essa lembrança se torna mais dolorosa, trazendo consigo uma angústia profunda ao testemunhar a perda de pessoas íntegras, trabalhadoras e devotas, cujas vidas foram interrompidas de forma abrupta e impiedosa.

Tentar compreender esses eventos é um exercício de especulação, uma vez que o curso de cada existência está além de nosso controle e nas mãos daquele que nos criou.

Mesmo as explicações mais espiritualizadas deixam lacunas nos corações daqueles que lamentam a partida de seus entes queridos. A morte, sem dúvida, é uma alcunha poderosa, mas mesmo ela sucumbe ao tempo, mostrando que nossa existência é limitada e que, por mais acertadas que sejam nossas escolhas, a continuidade da nossa jornada terrena não é garantida.

Neste ponto, podemos nos confortar com a fé fervorosa da matriarca em suas orações, que certamente abriu caminhos para que este grande clã, após uma trajetória exemplar, possa se reunir uma vez mais e lembrar-se dos momentos felizes que os mantiveram unidos como família.

O legado que deixamos é único, cada um contribuindo à sua maneira para construir uma obra contínua, feita de pequenos tijolos que moldam a grande obra da vida.

Não se trata apenas de edificações físicas, mas sim dos exemplos que transmitimos, dos sorrisos que oferecemos, dos abraços que compartilhamos com aqueles que amamos e, acima de tudo, da empatia e do acolhimento aos nossos irmãos.

Apesar da saudade que fica com a diminuição da família reunida na casa do cunhado durante as festividades, as memórias e experiências vividas são um doce lembrete do que os uniu e os fez felizes enquanto estiveram juntos.


Um Sonhador Caminhando com Francisco - Escritor do blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/


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4 Comments

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Guest
Aug 08
Rated 5 out of 5 stars.

Linda homenagem a nossa família Ghissi ( Ghizzi)

Gratidão.

Sadi Ghissi/ filho de Irceu Ghissi

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Olá Sadi tudo bem? Lembro de você! Se desejares conhecer mais histórias daquele período acesse ao meu blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/ Fique com Deus...

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Guest
Aug 08

Parabéns! Linda homenagem à minha família!

Rita de Cássia Ghizzi, filha do Antoninho.

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Obrigado Rita de Cássia, por seu comentário (conheci bem seu pai, pena ter nos deixado tão cedo!), se desejares conhecer outras histórias que se entrelaçam com vossa família entre no meu Blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/ e desfrute de belas narrativas de famílias que ajudaram a construir nossa história. Um fraterno abraço! Fique com Deus...

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