
À medida que os amigos da comunidade iniciam sua migração para longe, surge um despertar de oportunidades de crescimento e desenvolvimento naquele novo ambiente.
Apesar das fortes raízes culturais e tradições, as expectativas econômicas e as possibilidades de ascensão socioeconômica estimulam o orgulho desse povo trabalhador, cuja fé é a base fundamental, mas que enxerga no trabalho uma maneira de ocupar o tempo e vislumbrar novas perspectivas.
Com compadres e amigos partindo e parentes se animando, uma viagem de esperança se inicia, abrindo caminhos para um mundo novo.
Localizada em uma pequena vila no sudoeste do Paraná e ao oeste de Santa Catarina, esse lugar distante proporciona uma motivação extraordinária para estabelecer novas metas e buscar um novo ideal, mantendo a essência de uma vida comunitária, porém expandindo horizontes para sonhar mais alto.
Neste momento de renovação e esperança, uma família da região de Getúlio Vargas desembarca na pitoresca Vila do Povo Feliz nos anos 60.
A residência oficial fica em território catarinense, mas a verdadeira vida social se desenrola na parte paranaense da Vila.
Uma mistura de tradições italianas do patriarca e alemãs da matriarca se fundem nesta família, que segue um roteiro aparentemente pré-determinado: dois irmãos se casaão com duas irmãs.
Estes possíveis relacionamentos já estão sendo tramados nos animados encontros sociais das comunidades do interior, nos eventos religiosos e até mesmo nos jogos de futebol.
A história que vos trago é a saga de duas famílias que se uniram através do casamento entre dois irmãos e duas irmãs, dando origem a uma linhagem que promete perdurar por muitas gerações.
Os protagonistas desta primeira história apresentam uma abordagem peculiar e pragmática, onde o trabalho é a prioridade.
Esta família pequena, composta por cinco filhos - três mulheres e dois homens, é o destaque já no próximo capítulo, onde o irmão mais velho e sua esposa assumirão o papel principal.
Com sua gaita de boca e sua personalidade franca e direta, o patriarca encantava amigos com facilidade, o que era crucial diante da distância que o separava de sua família de origem.
No entanto, essa era sua maneira de se relacionar e de se destacar em uma época em que o foco principal era o trabalho e a produção de riquezas.
Neste caso, o casal surpreendeu ao priorizar o desenvolvimento dos filhos de maneira inovadora.
Mesmo não tendo estudado, conseguiram proporcionar a oportunidade de estudo aos seus filhos.
Dentro desse núcleo familiar, duas mentes brilhantes atuavam como professoras, enquanto os outros dois membros mostravam todo o seu talento na área contábil. A terceira filha, apesar de não ter informações sobre sua formação, com certeza também almejava essa chance de se destacar, revelando o valor que a educação tinha para todos naquela família, indo muito além do simples trabalho físico.
Os pais incentivaram seus filhos a expandir suas mentes, a enxergar além do óbvio e a compreender a importância das relações sociais.
Pensar de forma diferente foi visto como respeito à diversidade, uma habilidade que apenas mentes despertas possuem.
Viver em sociedade requer desprendimento e compreensão, além de reconhecer que nossas ações impactam o outro. Cada pensamento pessoal se conecta com o coletivo, exigindo uma forte presença individual em meio à certeza de que somos responsáveis por influenciar o próximo.
Nesse cenário de oportunidades, o patriarca se lança em parcerias comerciais com outra família, explorando o lucrativo ramo madeireiro em uma serraria na Linha Coxilha Negra.
A aquisição de terras repletas de pinheiros marca o início do legado da família, que vislumbra além da extração de madeira, a transformação das terras em fonte de renda agrícola para um novo ciclo econômico.
Com um olhar empreendedor, ele inclui seus filhos desde cedo em suas atividades e, ao longo do tempo, os motiva a buscar educação em sua cidade natal.
Assim, dois jovens rapazes e uma moça partem em busca de conhecimento, mas retornam ao seu querido lar com um propósito singular: expandir os horizontes do saber.
Enquanto duas filhas decidem permanecer junto aos pais, formando famílias e dedicando-se ao magistério na Escola da Vila em Palma Sola.
Ambas se destacam como educadoras, com a mais velha demonstrando grande habilidade em atrair alunos para a escola, em meio à disputa por matrículas com a escola da Vila que pertencia a Salgado Filho, que apresentava uma estrutura superior em termos de ensino.
No entanto, essa mudança não afetou a relação entre as escolas, apenas abriu novas oportunidades para diferentes formas de educação.
Com a liberdade de escolha dos pais, não havia restrições geográficas, e os filhos dos funcionários e empregadores acabavam estudando na escola local, já que a parte urbanizada de Palma Sola era a principal fonte de empregos.
Após uma bem-sucedida carreira na área contábil em suas terras de origem, os filhos homens decidiram retornar à Vila e seus arredores na década de 1980.
Após anos de estudo e construção de sólidas carreiras, decidiram fortalecer laços de amizade e contribuir para a comunidade local.
Enquanto uma das irmãs optou por manter-se em sua terra natal, seguindo os valores tradicionais de seus pais e formando uma família conforme os costumes, os filhos homens trouxeram inovação para a administração da propriedade da família. Implementaram novas práticas, como a produção em larga escala de erva-mate e feijão, além de mecanizar as terras para aumentar a eficiência nas atividades agrícolas
.O filho mais velho, um ser alto com uma semelhança impressionante com o cantor Sérgio Reis, partiu para Francisco Beltrão e se tornou um renomado empresário.
Enquanto isso, o caçula optou por permanecer na Vila, dedicando-se à agricultura. Com o passar do tempo, ele se tornou um líder influente no Movimento de Emancipação da Vila. Graças à sua dedicação e habilidade, ele foi eleito presidente da Comissão responsável por conduzir o processo de forma imparcial e eficiente, resultando na aprovação da população local.
Após a emancipação, as professoras seguiram seus caminhos no Magistério, agora com novas oportunidades.
A mais jovem passou a lecionar no novo Município, enquanto a mais velha se aposentou, encerrando seu ciclo na escola.
Após se aposentar, dedicou-se ao esposo e ao único filho, tendo a felicidade de ver o nascimento de seu neto e primeiro bisneto de seus pais, mantendo laços com a sociedade e a igreja.
Era uma pessoa de fala fácil e pessoalmente, eu a admirava muito, assim como seu esposo.
Sempre tínhamos conversas, mostrando afinidade de pensamentos e ações. Ele, ex-seminarista, cuidava dos canteiros centrais da cidade, embelezando o local com carinho e arte.
Isso me inspirava, pois a flor é o símbolo de nossa cidade e deve ser o foco dos agentes públicos, representando poeticamente nossos sentimentos e tornando nossa comunidade vibrante e acolhedora.
Infelizmente, a aposentadoria da professora foi interrompida precocemente por uma doença grave, impossível de reverter, deixando-nos órfãos de sua sabedoria e experiência.
É nessas horas que somos confrontados com a imprevisibilidade da vida, nos lembrando da importância de viver o presente com respeito e gratidão.
Cada um de nós é único, com caminhos e escolhas pessoais que devem ser respeitados, pois no final, colhemos o que plantamos.
O tempo também levou seu marido, mas seu legado de amor e sabedoria continua vivo através do filho único e do neto, que perpetuam sua história com orgulho e admiração.
Os patriarcas, com sua força de trabalho e longevidade, puderam celebrar suas Bodas de Ouro, ele tocando sua inseparável gaita de boca e cantando cantorias italianas, fazendo amigos em seu bar preferido, que ficava bem próximo de casa.
A filha mais nova, agora aposentada, desfruta da companhia dos filhos, netos e do Grupo de Idosos, mostrando que viver a vida ao máximo é o mais importante.
Mesmo diante dos desafios, ela entende que é essencial seguir o ritmo da dança da vida, proporcionando discernimento e empatia em cada passo dado.
O Presidente da Comissão de emancipação, ao se tornar Secretário de Administração e Finanças do novo município, desempenhou um papel vital na sua estruturação inicial, contando com o apoio e expertise de sua esposa.
Juntos, utilizaram seu conhecimento e experiência para garantir um promissor começo para todos.
Com o tempo, o Presidente buscou novos desafios em outros municípios, atuando como administrador e consultor em diversas áreas, contribuindo assim para o avanço da região fronteiriça.
Enquanto isso, sua esposa seguiu uma nova trajetória como professora, demonstrando talento e vocação para essa nobre profissão.
Sempre preocupada com a formação integral de seus alunos, ela reconhecia a importância não apenas do mérito acadêmico, mas também dos fatores sociais e culturais que influenciam a aprendizagem de cada indivíduo.
Além de lecionar, ela também se destacou como diretora da escola, implementando um modelo educacional que buscava resultados e envolvia ativamente a comunidade, com disciplina e empatia.
Durante o meu segundo mandato como Gestor Municipal, ela exerceu a função de Secretária Municipal de Educação, pudemos alcançar resultados incríveis, graças ao esforço e dedicação de toda a equipe.
Em 2009, fomos classificados em 2º lugar no IDEB do Paraná no Ensino Fundamental I, o que foi um grande feito para nós.
Além disso, implementamos várias ações que deixaram sua marca, como a introdução do Sistema Positivo, o novo Plano de Carreira dos Profissionais do Magistério, melhorias no transporte escolar com a aquisição de novos ônibus e o início da educação integral nos primeiros anos.
Não podemos esquecer também da construção de uma nova escola municipal, separando a dualidade existente com o colégio estadual e estabelecendo novos rumos para o sistema de ensino do município.
Esses feitos não teriam sido possíveis sem a inteligência e o comprometimento de todos os envolvidos, sou extremamente grato pela oportunidade de liderar uma equipe tão brilhante. Juntos, alcançamos grandes conquistas e deixamos um legado duradouro para a educação em nossa cidade.
Hoje, o casal desfruta da aposentadoria, alternando entre a vida na cidade e na propriedade rural, aproveitando a companhia dos filhos e a beleza da natureza como fonte de realização pessoal.
Eles compreendem que cada um tem sua parte na construção de um mundo melhor e procuram contribuir da melhor forma possível.
Contemplando a trajetória dessa família, é surpreendente ver como os pais, mesmo sem educação formal, conseguiram proporcionar aos filhos a oportunidade de estudar - algo incomum naquela época. Isso revela o aspecto visionário dos patriarcas, que compreendiam a importância da liberdade intelectual e permitiam que seus filhos alçassem voos mais altos.
Em um mundo em constante evolução, é essencial exercitar o pensamento crítico. Quando paramos para refletir, conseguimos enxergar com mais clareza tanto nosso próprio eu quanto o mundo ao nosso redor.
É preciso compreender que impor pensamentos é um ato autoritário, e cada indivíduo é livre para fazer suas próprias escolhas e assumir as consequências.
O livre arbítrio que Deus nos concedeu é uma grande dádiva, nos lembrando sempre de respeitar, mesmo quando não concordamos plenamente.
Assim, somos desafiados a pensar de forma inteligente e sensata em todas as situações.
Um Sonhador Caminhando com Francisco - Escritor do blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/
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