
A última leva de parentes do visionário Pioneiro da vila atravessa o Rio Chapecó e desembarca no final de 1974 para se estabelecer nas terras escolhidas pelo avô, que agora residia no além.
Os netos e a nora, juntamente com a matriarca, se unem aos outros descendentes e ao filho que continuava o legado do patriarca, seguindo firme em direção aos sonhos inicialmente cultivados na agricultura e agora materializados em um próspero empreendimento comercial.
A Vila florescia em amizades, fé e desenvolvimento socioeconômico, como um cenário de novela, onde cada passo seguia os impulsos de esperança inspirados pelas histórias vividas por aqueles que vieram antes, saboreando o doce néctar das flores polinizadas pelo desejo de encontrar um novo rumo na vida.
As áridas terras do Rio Grande amado e dos sonhos de Santa Catarina foram deixadas para trás, dando lugar a novos ventos favoráveis que indicavam uma nova oportunidade de vida.
Para as famílias italianas, a fé e o trabalho eram valores essenciais, substituindo a necessidade de educação formal. Era o talento natural que impulsionava a esperança de construir um patrimônio para as gerações futuras, vivendo bem no presente com simplicidade e cuidado financeiro.
Em meio a esse cenário de esperança, o filho mais velho de uma linhagem de pioneiros chegou à vila com sua mãe, irmãos jovens e a esposa grávida.
No início de 1975, nasceu o tão esperado rebento, trazendo alegria aos corações dos pais. Assim, mais um "colorado" foi adicionado à família, honrando a tradição do Internacional.
O início da jornada não foi simples, pois os recursos eram escassos. No entanto, após a venda da propriedade no Município de origem, a família conseguiu adquirir uma casa para morar na parte superior e montar um negócio na parte inferior.
Além disso, parte do dinheiro foi destinada à compra de um fusca, que seria utilizado por um dos irmãos como táxi.
O irmão mais velho, um italiano bonachão com um sotaque peculiar, logo conquistou uma clientela fiel em seu bar, contando com a ajuda das irmãs mais novas para cuidar das tarefas domésticas e abastecer o estabelecimento com petiscos.
Enquanto isso, o irmão mais novo auxiliava no atendimento aos clientes, mostrando toda a dedicação da família para o sucesso do negócio.
O conceito do bar foi cuidadosamente elaborado e trouxe uma lufada de ar fresco para a vila, substituindo os comuns bancos de madeira da época por bancos fixos no balcão, acompanhados de cadeiras giratórias para proporcionar maior conforto aos clientes.
Além disso, foi introduzido um expositor para os produtos, inicialmente refrigerados em uma geladeira a gás até a chegada da eletricidade em 1977, abrindo espaço para avanços e mais opções de produtos.
A localização estratégica tornou o estabelecimento o ponto de encontro da vila, próximo à barraquinha do seu Alípio, da Rodoviária, do Hotel e do Posto de Combustível, em frente ao comércio do tio que o incentivou a criar o negócio.
O ambiente se tornou palco de grandes encontros entre amigos, regados a bebidas e animadas conversas sobre futebol, política e outros assuntos que movimentavam a população naquela época.
Cada dono de bar da vila tinha suas próprias peculiaridades, o que resultava em uma diversidade de serviços oferecidos à população, com destaque para o local da bocha, do bolão, dos sorvetes e picolés, e, é claro, o bar desta história, conhecido como o cantinho perfeito para uma conversa tranquila e agradável.
As amizades eram o centro de tudo, principalmente em um lugar pequeno onde a afinidade era fundamental para estreitar os laços.
Eu vivi isso de perto com meu pai, que saía de casa pontualmente às 18h para percorrer cada bar da vila e degustar sua pinguinha sagrada, enquanto se atualizava dos acontecimentos do dia.
Naquela época, a informação vinha dos noticiários das Rádios Guaíba e Gaúcha, da Voz do Brasil e era compartilhada nesses encontros.
O papo normalmente girava em torno de futebol, clima e política, mas com uma abordagem mais íntima, voltada para os adeptos da prática, e é claro, para as possibilidades de carona até o Banco do Brasil em Dionísio Cerqueira ou no Bandeirantes em Palma Sola.
Bastava um olhar para combinar algumas escapadinhas, um código entendido apenas pelos mais antigos, que naturalizavam essas situações e as transformavam em parte da tradição, muitas vezes driblando as desconfianças das esposas com desculpas como carro quebrado, estrada intransitável ou uma prolongada conversa entre amigos.
O dono do bar era mestre em decifrar esses jogos de olhares e, ao simples balançar de cabeça dos clientes, sabia que a festa estava garantida, mesmo sem energia, sem telefone e com muita disposição.
Não podemos generalizar, mas é importante ressaltar os fatos vivenciados por esse antigo 'barman', que transformou seu negócio em algo marcante pela simplicidade e pela forma peculiar de atender, até mesmo quando a esposa aparecia tarde da noite com o balde e o rodo, tentando limpar o local sem que isso fosse encarado como uma provocação, todos encaravam aquilo com bom humor e respeitavam o jeito de ser de sua esposa e do dono do bar.
Nos gloriosos anos 80, a Vila viu sua decadência refletir também na vida desse empreendedor visionário.
Os irmãos, pouco a pouco, seguiram seus próprios destinos: o mais jovem se mudou para Chapecó, mergulhando no mundo dos seguros por influência de um primo que já brilhava nesse ramo - uma história que já contei no primeiro capítulo.
Uma das filhas casou e fez seu lar no Rio Grande do Sul, tendo, inclusive, sido minha catequista de Crisma.
Já a caçula, em muitas ocasiões, substituiu minha adorável professora Leonilda e depois seguiu para Salgado Filho, onde se casou e construiu sua própria família.
Hoje, de volta ao agora Município, ela trabalha como funcionária pública - tendo perdido recentemente seu amado marido, um ardente torcedor colorado.
Ele era uma das grandes figuras coloradas que tive o prazer de conhecer, um ser admirável por sua perpetua alegria.
Sua partida precoce para o além me faz refletir, como é difícil compreender os desígnios da vida. Mas é justamente essas incertezas que nos impulsionam a viver o presente com plenitude, afinal, o futuro, ah, este é um mistério que jamais desvendaremos.
O taxista decidiu se mudar para Salgado Filho, onde formou uma família e seguiu os passos de seus primos no transporte de madeira para São Paulo.
Mesmo com a atividade se tornando escassa, ele conseguiu se manter forte por muitos anos, mesmo após o declínio do ciclo da madeira.
Enquanto alguns de seus irmãos permaneceram na região de origem, esses tive pouco conhecimento os via nas visitas ao irmão mais velho e à mãe.
Em meio a tudo isso, um novo irmão chegou à vila, vindo de Xavantina - SC, e com seu jeito peculiar de falar italiano logo foi apelidado de “Xavantina”. Ele veio para atuar como taxista, já que o irmão mais velho tinha se mudado para Salgado Filho.
Com o passar do tempo, a nona Pina veio a falecer. Ela era uma italiana de fé fervorosa, que cantava no coral da igreja ao lado de uma parente mencionada na narrativa anterior.
Lembro-me dela idosa, com cabelos curtos e encaracolados, uma verdadeira matriarca que zelava pelas tradições e cuidava dos filhos.
Ela era uma parceira da nora no cuidado de seu neto, que foi criado em um ambiente de muita religiosidade, valores e tradições que certamente moldaram sua personalidade de forma profunda.
Com a chegada da emancipação do Município e as mudanças implementadas para manter a atividade em funcionamento, o comerciante transformou seu pequeno bar e mercearia em um próspero negócio. Utilizando seu Corcel II Marrom para realizar corridas eventuais como taxista, ele enfrentou e superou os desafios que surgiram em seu caminho.
Após se aventurar no mundo da política e se candidatar a Vereador, ficando na primeira suplência em uma acirrada disputa onde também concorri, tive a oportunidade de assumir a Secretaria Municipal de Educação e permitir que ele ocupasse o cargo de vereador por um período significativo.
Mesmo enfrentando obstáculos, o comerciante não desanimou. Ele expandiu seus empreendimentos adquirindo uma área ao lado de seu bar e mercearia, onde antes funcionava um posto de combustível, e investiu em um mercado. Aos poucos, ele introduziu a venda de materiais de construção, suprindo uma necessidade crescente na cidade em desenvolvimento.
Com a ajuda de um cunhado como sócio enquanto o seu filho atuando na administração pública, o comerciante dedicou-se ao crescimento do negócio.
O desejo de todos envolvidos era resgatar a prosperidade da região, que havia enfrentado despovoamento e declínio econômico. A determinação e visão empreendedora do comerciante mostraram-se fundamentais para o sucesso do empreendimento.
Naquela época, a prosperidade era palpável para todos os empreendedores da cidade. Com novos clientes e a população do interior agora frequentando o local, o negócio floresceu.
O filho, que já havia brilhado como meu Secretário de Planejamento, Indústria e Comércio no meu primeiro mandato como Prefeito, trouxe inovações e parcerias que impulsionaram a economia local.
Mas, com o tempo, a sociedade se dissolveu e o protagonista se aposentou. Seu filho seguiu por novos caminhos, enquanto sua esposa, infelizmente, partiu após uma batalha contra uma doença cruel.
Sua vitalidade era lendária, sendo considerada uma figura materna para os padres que a visitavam. Sua capacidade de fazer amizades entre os sacerdotes e irmãs era notável, graças ao seu acolhimento caloroso, cuidado com a alimentação e demonstrações fervorosas de fé.
Além disso, era a representante da Revista Salete na Vila, promovendo a devoção à Santa cuja aparição ocorreu na França. Participava ativamente das grandiosas festividades em Marcelino Ramos, provavelmente desde sua adolescência.
Seu talento era ainda mais evidente no preparo de sagu, bolos e sorvetes, que encantavam a todos.
Revisitar essa família renomada é reviver os talentosos atletas que emergiram dos defensores incansáveis ao atacante habilidoso, incluindo o único herdeiro do visionário empresário. Mesmo sem testemunhar sua glória nos campos, ele trouxe consigo a tradição familiar ao adentrar a Vila, um traço peculiar perpetuado por seu filho.
É uma história que remonta à origem na figura respeitável do Avô Francisco, seguindo por Herminio e Dona Hortência, sua prole, Didio e Dona Lurdes, Darci e sua descendência, e indo além com Dona Pina, Tere, Valter e seus irmãos, continuando com Evandro, Kátia, Cíntia...
O que era inovação se torna tradição, perpetuando-se mesmo em meio à ciclicidade da vida. Cada geração contribui com seu legado, evoluindo conforme sua capacidade de se reinventar, preparando o terreno para o retorno do ciclo completo.
Somos sementes em constante crescimento, deixando nossa marca e servindo de exemplo para os que virão depois de nós.
O cerne da existência está em viver plenamente cada momento, preenchendo cada instante com amor e dedicação, a fim de deixarmos um legado de bondade e impacto positivo na vida dos outros.
Conhecer nossa história é confrontar o passado com o presente, compreendendo que não existem tempos melhores ou piores, apenas pessoas diferentes vivendo em épocas distintas, cada uma deixando sua marca no mundo.
Felizes são aqueles que semeiam o bem, pois o amor sempre prevalecerá sobre o mal, guiando-nos em nossa jornada.
Um Sonhador Caminhando com Francisco - Escritor do blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/
Comments