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HISTÓRIAS DA VILA DO POVO FELIZ (41) - FAMÍLIA PERONDI (2)

Foto do escritor: caminhandocomfrancisco.com/ caminhandocomfrancisco.com/

Os desbravadores seguem em frente, mantendo vivas suas raízes históricas e lembrando-se sempre dos entes queridos que deixaram para trás.

O caminho é trilhado em etapas, em que a ação inicial foi a mais desafiadora, mas as manifestações calorosas enviadas em cartas tranquilizavam aqueles que ficaram revelando que o novo lugar, embora não sendo um paraíso repleto de riquezas naturais, é habitado por pessoas com objetivos em comum.

A língua italiana ressoa nas conversas, os cantos religiosos ecoam, as capelinhas se tornam ponto de encontro para a oração do terço, e as amizades se fortalecem em torno de jogos como o bolão e a bocha.

Essas interações remetem à origem da família, mas de uma forma renovada, caracterizada pela facilidade em fazer novos amigos e pelas oportunidades socioeconômicas que se concretizam, possibilitando a contratação de mão de obra.

Seguindo a tradição de confiança que impera nos clãs italianos, os parentes são vistos como verdadeiros irmãos, especialmente os primos, cujo convívio é marcado por atividades como futebol, pescas, caçadas e bailes.

Dessa forma, a família se fortalece tanto nos momentos de lazer quanto nos grandes desafios que surgem em seu caminho.

Nesse intricado cenário familiar, uma nova geração desta estimada família se une aos primos e avós para também construir seu próprio lar e deixar um legado marcante, especialmente no aspecto religioso, influenciados pela forte presença de uma senhora que foi um pilar na igreja da Vila.

O casal recém-casado chegou à Vila em busca de oportunidades para seus filhos ainda pequenos e os que ainda estavam por vir.

Enquanto ele encontrou emprego como motorista na empresa do tio, a esposa e o irmão abriram uma loja de roupas para competir com a renomada filial da Renner de Barracão, que funcionava ao lado do Hotel Bender.

Além disso, investiram em um veículo e trabalharam como taxistas nos momentos de folga, já que era uma atividade lucrativa devido ao fluxo contínuo de passageiros na rodoviária local, que recebia linhas da Cattani e da Reunidas, conectando o Sudoeste do Paraná, o Extremo Oeste Catarinense e o amado Rio Grande.

Os visitantes com parentes vivendo no interior, as corridas para levá-los até os inóspitos rincões eram frequentes, assim como o transporte de gestantes para darem à luz no Hospital em Palma Sola ou com a ajuda de uma parteira na mesma cidade.

Sem dúvida, foram tempos desafiadores para essa família determinada. As reservas financeiras foram direcionadas para investir na loja de roupas e no táxi para sustentar a família, o que exigiu muito esforço desses indivíduos resilientes.

Enquanto a senhora contribuía com a loja e ainda cuidava das tarefas domésticas, o marido se tornava o motorista principal da empresa dos primos, desbravando novos caminhos no transporte de suínos para os frigoríficos de Ponta Grossa e São Paulo.

Uma tarefa árdua, considerando o desafio de transportar uma carga viva e odorosa em estradas nem sempre favoráveis.

Enquanto isso, a esposa buscava formas de aumentar a renda familiar, vendendo produtos da Avon, fazendo bolos sob encomenda e auxiliando na divulgação do calendário Antoniano.

O cunhado que também era seu sócio na loja de roupas decidiu seguir um novo rumo e deixou a sociedade para trabalhar no posto de gasolina de uma família tradicional, cuja história já contei anteriormente.

Essa mudança o permitiu construir sua própria família, ao se casar com uma professora local, fortalecendo assim seus laços com a comunidade de forma ainda mais profunda.

A trajetória da família da renomada cantora de música sacra foi marcada por diversas histórias singulares.

A primogênita trocou alianças com o habilidoso mecânico do Posto Esso, como foi mencionada anteriormente, enquanto os outros filhos amadureciam e se integravam à sociedade. Meu antigo colega de escola, o primogênito, também compartilhava comigo os momentos de esportes, bailes e matinês.

Com a redução da atividade na suinocultura, o saudoso Didio e seu genro decidiram investir em um caminhão MB - trucado para transportar madeira até São Paulo.

Essa era uma fonte de renda importante, impulsionada pelas serrarias que ainda estavam ativas no final do ciclo da madeira.

Infelizmente, nos anos 90, juntamente com o declínio da atividade madeireira, uma doença cruel atingiu Didio.

Apesar de todo o esforço dos médicos e dos familiares, não foi possível reverter o quadro, e ele veio a falecer.

Lembro-me vividamente da tristeza que tomou conta de todos enquanto aguardávamos a chegada de seu corpo vindo de Curitiba para o merecido velório e sepultamento.

Algumas vezes nos questionamos: por que as coisas acontecem dessa forma? Quando finalmente havia conquistado a tão sonhada casa, depois de anos vivendo em um cômodo anexo à residência de uma família tradicional da Vila, e estava prestes a se aposentar para desfrutar de momentos de lazer jogando bocha com os amigos e aproveitando a companhia da neta e da filha ainda adolescente, a vida chegou ao fim abruptamente.

São momentos como esses que nos levam à reflexão e nos fazem buscar respostas em nosso íntimo, em uma conversa íntima com Deus, pois somente Ele pode nos proporcionar entendimento e clareza sobre os eventos que ocorrem em nossa jornada.

Enquanto isso, o genro e a filha já haviam se mudado para o Mato Grosso, a esposa assumiu uma função pública como atendente de saúde na Vila, e os filhos estavam seguindo seus próprios caminhos em diferentes atividades, com alguns deles conquistando cargos públicos no município.

Após deixar sua função no posto de combustível, o cunhado/irmão embarcou em uma nova jornada como ecônomo do CTG. Anos mais tarde, alcançou o cargo de subprefeito do Distrito e teve um papel fundamental como um dos pioneiros do Grupo de Idosos. O projeto, criado pelo Município de Palma Sola através de recursos da LBA, mantinha uma conexão vital com a comunidade.

Após a emancipação, mudou-se para Salgado Filho, onde abriu um bar, enquanto sua esposa lecionava na Rede Municipal.

Mais tarde, retornaram à cidade onde investiu em uma lancheria, famosa por produzir uma das melhores pizzas da cidade.

Com o passar dos anos, a esposa se aposentou, a filha seguiu carreira no magistério e o empreendimento foi diminuindo suas atividades. Recentemente, esse senhor veio a falecer, deixando um legado que marcou sua passagem terrena.

Nos anos 90, a cantora talentosa viu sua carreira como atendente de saúde chegar ao fim com a aposentadoria. Ela foi uma das pioneiras no atendimento descentralizado de Salgado Filho na Vila, começando em uma sala improvisada embaixo de um porão e depois mudando para a unidade que hoje abriga o almoxarifado municipal. Sua dedicação e inovação foram essenciais para o desenvolvimento do sistema de saúde local.

Alguns membros da família continuaram residindo na cidade, mantendo a união em torno da matriarca, que foi uma das primeiras vítimas em nosso Município do vírus que assolou o mundo recentemente.

Sua partida deixou um vazio para aqueles que a amavam e admiravam, mas seu espírito permanece vivo na memória de todos.

Como em uma sinfonia de palavras entoadas com alma e devoção, ela sempre cantou as despedidas às almas da Vila.

Com o rosto corado e as veias do pescoço pulsando de tanto esforço vocal, ela não pôde ter uma despedida cerimonial devido às medidas sanitárias restritivas em vigor naquele momento.

O adeus silencioso, assim como a rosa branca da conhecida canção, permaneceu presente em nossas vidas, uma lembrança que nunca desabrochará novamente.

Recordar essa figura marcante nos faz ponderar sobre a relevância do que deixamos como legado ao longo de nossa jornada.

As lembranças do esposo ecoavam em sua mente, como notas de uma melodia distante. Ela recordava das portas que pareciam suspirar ao sentir a falta de sua presença, das manhãs em que ela se dedicava ao catálogo da Avon, e das datas que marcavam o calendário Antoniano, sempre tão pontual.

Recordava com nostalgia as pequenas gotas de vacina contra a poliomielite, que tanto tinham contribuído para salvar vidas.

No entanto, lamentavelmente, essa mesma proteção não foi capaz de impedir sua passagem para a eternidade, junto de seu esposo e pais.

Seria aquilo uma vontade divina ou seu merecido descanso final? O tempo havia chegado para sua partida, e agora nos questionamos se tudo isso fazia parte de um plano maior ou se algo crucial foi deixado de lado.

Esses momentos nos levam a refletir sobre o passado e o presente, mas o que realmente importa vai além das nossas necessidades mundanas - um dia, todos nós retornaremos ao Pai, assim como essa querida senhora e seu esposo, em harmonia e tranquilidade, é o que desejamos de coração.

Seus descendentes continuam seu legado de simplicidade e fé, que deixaram uma marca profunda em nossa religiosidade.

Suas canções ainda ressoam em nossa alma, agradecemos Dona Lurdes por tudo. Sua voz ainda ecoa em direção a sua merecida paz eterna.


Um Sonhador Caminhando com Francisco - Escritor do blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/

 

2 Comments

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1000tonfperondi
Jun 18, 2024
Rated 4 out of 5 stars.

Parabéns Paulo pelo conhecimento da família do Luiz Perondi e do Darci.Impressiona a maneira como você descreve os fatos,seguindo uma ordem cronológica dos acontecimentos.Como Primo da família dos mencionados,agradeço de coração tão significativa lembrança de quem ajudou a construir nossa querida Flor da Serra do Sul!

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Caro amigo Milton, agradeço imensamente o seu comentário. Os elementos positivos desta família enriquecem minhas memórias, e na semana que vem trarei o capítulo final com a última jornada dos Perondi em direção à Vila do Povo Feliz. Sempre motivados pelos desbravadores Francisco, Hermínio e Dona Hortência. Um abraço caloroso e que Deus esteja contigo.


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