A fé era tão importante quanto o trabalho árduo e as relações familiares na encantadora vila do povo feliz, situada no alto da serra do Tatetos.
Nos anos 50, os primeiros habitantes começaram a construir suas casas de madeira, cobertas de tabuinhas, e a base de tudo era a oração de gratidão diária e as bênçãos do Padre que vinha uma vez por mês a cavalo da região de Dionisio Cerqueira.
A fé se fortalecia a cada obra realizada, e a comunidade prosperava com base na união e na devoção.
As histórias da vila do povo feliz são um testemunho de como a fé e o trabalho em conjunto podem construir laços indestrutíveis.
Na vibrante década de 1960, a imigração de famílias italianas do Rio Grande do Sul, oriundas de cidades como Marau, Constantina, Nonoai, Getúlio Vargas, Lagoa Vermelha, Ijuí... e Descanso – SC..., trouxe consigo a valorosa tradição da oração do terço e um intrépido espírito de união comunitária.
Ao estabelecerem-se nessa nova localidade, esses pioneiros logo se organizavam para construir uma igreja e negociar a construção de uma escola com as autoridades locais.
Com a chegada desses novos moradores, a vila logo se desenvolveu, com novos estabelecimentos como hotéis, postos de combustíveis e armazéns surgindo.
A tão sonhada igreja foi construída em um terreno onde posteriormente funcionou uma marcenaria, próxima ao maior comércio da vila.
Com a colaboração dos residentes locais e do alto da linha Pedra Lisa, a igreja foi erguida com doações de tábuas das serrarias locais e a mão de obra de um mestre, auxiliado por voluntários.
A torre frontal, imponente, simbolizava a presença divina em um local de devoção e respeito.
A escolha da Padroeira, embora não haja registros oficiais, parece estar relacionada à santa que já era venerada pela comunidade anterior dos moradores no Rio Grande do Sul.
Essa ligação se dá, provavelmente, porque os habitantes chegaram de uma vila conhecida como Fátima, em referência à famosa aparição da Virgem Maria em Portugal a três simples pastorinhos.
Com seu lema de paz e oração, a santa de Fátima se tornou um símbolo de proteção em um mundo abalado por duas terríveis guerras mundiais.
Sua presença na comunidade recém-formada transmitia segurança e inspirava os fiéis a seguirem em frente com fé, confiantes na divina proteção que sempre os acompanhava, tanto no templo sagrado quanto em seus corações devotos.
Com o imenso crescimento da Vila ao longo desta década, a igreja se viu pequena diante da expansão.
Com o desenvolvimento da Vila em direção ao que hoje é o centro da cidade, as lideranças locais decidiram mudar de local e construir uma igreja maior, que pudesse abrigar não só os fiéis, mas também servir de espaço para festas comunitárias.
Assim, no desfecho dos anos 60 e início dos anos 70, emergiu uma magnifica construção de dois andares, completamente construída em madeira.
Sua arquitetura retangular, apesar de não ser convencional para um templo religioso, foi cuidadosamente planejada para aproveitar ao máximo o espaço, tanto para atividades religiosas quanto festivas.
Seu elemento mais marcante era uma imponente escada que levava ao andar superior, de onde se podia contemplar toda a Vila.
Mais uma vez, a comunidade se uniu em solidariedade, doando materiais e trabalho voluntário para ver o projeto se concretizar.
Porém, havia ainda um plano em aberto: aos poucos, um barracão foi erguido para armazenar tijolos, visando a construção da tão almejada igreja de alvenaria.
Essa igreja sempre foi o cenário de momentos especiais na vida de muitas pessoas, incluindo a minha e a dos meus familiares.
Os padres que serviram à comunidade trouxeram significado e celebração com batizados, primeiras eucaristias, crismas e casamentos.
Lembro-me de nomes como Padre Francisco, Padre Leopoldo Melz, Francisco Roldo, Mário Venturini, Manoel e Germano, cada um deixando sua marca e guiando a comunidade sob a liderança do ministro Batista Maran.
Com sua incrível determinação, Dona Lurdes Perondi liderava com maestria o coral das mulheres da Vila, enquanto Danilo Arisi comandava os fiéis na recitação do terço.
Os eventos realizados na igreja tornaram-se momentos marcantes, com festividades grandiosas em honra da padroeira e outras celebrações comunitárias. Bailes, matinês, casamentos, festas juninas, formaturas... o pavilhão era o local de encontro para a comunidade desfrutar desses momentos.
Com mesas grandes e bancos azuis, o ambiente era acolhedor, com divisórias numeradas em vermelho para venda durante os bailes. Mais tarde, mesas pequenas com quatro lugares foram adicionadas para acomodar melhor os presentes.
Foi uma época dourada da nossa juventude, marcada por muita fé, respeito e, é claro, diversão. Antes das missas, quando a noite envolvia tudo em escuridão, era comum entre nós jovens realizar uma travessura: mover discretamente o fusca azul do Frei Francisco Roldo.
O reverendo, um indivíduo cheio de vigor, que apreciava acender seu cigarro de palha com um fumo denso, e fazia piadinhas de que a "marca do cigarro era Colombo, a cada tragada um tombo".
Não titubeava em elevar o tom de sua voz diante de qualquer falta de respeito no santuário, às vezes nem notava a mudança de posição de seu veículo.Era um desafio para nós, ainda que sem consequências aparentes, pois, em outras ocasiões, ele sempre vinha nos lembrar da importância de participar das cerimônias religiosas.
Suas palavras, por vezes, surtiam o efeito desejado, pois, na missa seguinte, lá estávamos nós, mostrando que a lição havia sido aprendida.
Na década de 80, um líder de uma família tradicional assumiu a presidência da igreja com o objetivo ambicioso de construir uma igreja de material.
Os desafios eram enormes, pois seria necessário demolir o prédio existente e reconstruí-lo no mesmo local. Apesar disso, a igreja temporariamente teria que se contentar em utilizar o CTG da Vila, já que a igreja e o Pavilhão seriam desativados.
A Vila estava passando por momentos difíceis, com famílias se mudando e dificuldades cada vez mais evidentes.
No entanto, graças aos contatos dos dirigentes, foi possível obter uma linha de crédito a fundo perdido de um programa do Banco do Brasil de Palma Sola. Com a ajuda de um gerente prestativo e visionário, a obra foi iniciada com sucesso.
Com tijolos reservados, recursos financeiros disponíveis e o apoio do programa do BB, a construção avançava.
Apesar de algumas limitações na parte frontal da construção, devido à falta de profissionais de arquitetura, a importância do projeto não foi comprometida.
A perseverança e a colaboração da comunidade foram fundamentais para a realização desse grande feito.
As janelas e portas da igreja, seguindo a tradição, foram doadas pelas famílias da comunidade. Em muitos casos, uma janela era dividida entre duas famílias, representando um valor significativo na época.
Com o passar do tempo, os papéis identificando as doações foram apagando, mas seria de grande valia histórica se houvesse registros dessas contribuições.
Após a conclusão da igreja, uma nova diretoria foi responsável pela construção do pavilhão. Optou-se por uma estrutura toda metálica, aproveitando as sobras de tijolos para erguê-lo.
Por muito tempo, esse espaço foi utilizado para eventos importantes da comunidade, como a posse do primeiro Prefeito e Vereadores, a aprovação da primeira Lei Orgânica, o 1º FEMUSUL e diversos encontros e festas.
Infelizmente, o tempo não foi amigo da estrutura do pavilhão, que acabou ruindo em uma noite chuvosa no dia de uma eleição na década de 1990.
Foi necessária uma reconstrução gradual, com apoio do seguro e recursos financeiros adicionais, culminando na instalação de uma estrutura pré-moldada. A comunidade se reergueu e o pavilhão aos poucos foi sendo edificado.
Durante esse período crucial, foi estabelecida a reitoria, um marco enquanto eu exercia a função executiva municipal.
Tivemos a oportunidade de colaborar com a parte de mobiliário e logística para a instalação da Reitoria, que representava o primeiro passo rumo à futura Paróquia.
Em 2001, fui honrado em assumir a missão de liderar a Reitoria Nossa Senhora de Fátima, sob a orientação do Reitor Frei Carlos Matana e, mais tarde, dos Padres, César, Evandro e Odair, com a responsabilidade de dar continuidade ao trabalho iniciado na gestão anterior.
Foi um período marcado por um comprometimento intenso, favorecido pela total autonomia concedida pelos líderes religiosos.
Montamos uma Diretoria minuciosamente pensada, composta por indivíduos responsáveis por cuidar de cada detalhe, desde a carne até os leilões, passando pela organização do espaço e captação de recursos.
Solicitei que a parte da Tesouraria ficasse sob a responsabilidade das irmãs. Nossa primeira ação foi construir e mobiliar um quarto para o reitor, e graças ao apoio da comunidade, conseguimos completar essa tarefa sem recorrer aos recursos da igreja.
Em seguida, partimos para empreitadas maiores. Estabelecemos contato com o Executivo Municipal de forma respeitosa e dialogada, destacando a importância de honrar a doação feita no ano de 1991 pela igreja para cobrir os custos advocatícios durante a batalha judicial contra a emancipação.
Para nossa satisfação, tanto o Executivo quanto o Legislativo Municipal compreenderam prontamente a necessidade de saldar essa dívida com a igreja.
O desafio inicial foi a organização de um requintado jantar italiano no Ginásio de Esportes, com ingressos a 50,00 o casal e a chance de ganhar prêmios peculiares no bingo, sob a animação do saudoso Ivo Romani.
Posteriormente, elevamos o valor para R$ 100,00 o casal, transformando-o no tradicional Jantar de Fátima.
As vendas foram um verdadeiro jogo de negociação e parcelamento, mas, ao final, conseguimos vender mais de 200 convites, alcançando um lucro excepcional para a época.
Com a ajuda da Prefeitura e generosas doações, conseguimos concluir a estrutura básica do pavilhão, realocar a secretaria para um novo espaço, ampliar as salas de catequese e expandir a churrasqueira.
Com tudo quase pronto, preparamos a grandiosa Festa de Fátima, que foi um verdadeiro triunfo: foram vendidos 1.200 kg de carne, 110 caixas de cerveja de 600 ml, realizados leilões de bolos, rifas e oferecida uma variedade de iguarias saborosas.
Revivemos tradições como o café da manhã com mondongo, jogos clássicos como roleta e porquinho da índia, leilões de animais, diversão para as crianças, uma emocionante Procissão e, para fechar com chave de ouro, um animado matinê que se estendeu até as 19h.
Com eficiência e criatividade, vencemos todos os desafios e entregamos um evento memorável e lucrativo para nossa comunidade.
Após o grande sucesso da Festa, surgiu a oportunidade de revigorar nossa igreja. Com a colaboração do engenheiro e arquiteto da Prefeitura, realizamos visitas à igrejas em Curitiba para obter inspiração.
Juntos, concebemos um Projeto inovador que, após aprovação da Cúria e da comunidade, prometia transformar completamente a aparência do local. A reforma incluía a modificação da fachada principal, voltada para a chegada da cidade através da BR, a construção de uma capela na entrada, a adição de duas torres laterais para abrigar o sino e servir como banheiros, e diversos aspectos arquitetônicos modernos.
Além disso, o projeto previa um avanço lateral em direção a Santa Catarina e a construção de mais duas torres nos outros cantos do edifício.
Com um olhar visionário e uma equipe dedicada, os padres Fidel, Doalcei, Leandro, Jorge e outros líderes da igreja se empenharam em ressuscitar a estrutura interna e externa do templo, elevando-a a um nível de modernidade e funcionalidade sem precedentes.
O Pavilhão também passou por melhorias significativas, tornando-se mais espaçoso e com uma estrutura mais adequada para as festividades.
A cereja do bolo foi a conclusão da construção da casa do Pároco, que assumiu o desafio de expandir o alcance territorial da Paróquia, incluindo as capelas dos municípios de Marmeleiro, Barracão e Salgado Filho. Uma verdadeira ascensão para a Paróquia, resultado de um trabalho árduo e criativo de toda a comunidade envolvida.
Chegou a hora de dar início a um novo capítulo, um projeto ousado que lançará a igreja em direção aos próximos anos.
Com um design arquitetônico cuidadosamente planejado para lidar com as limitações das áreas já construídas, o objetivo é expandir o espaço e elevar a igreja a um ícone local imponente.
Este é o momento em que todos os católicos são convocados a contribuir, assim como nossos antepassados fizeram.
Se antes as doações eram em forma de serviços, agora será exigido uma maior organização, com contribuições financeiras escalonadas de acordo com as possibilidades individuais.
É crucial que expandamos nossa consciência para um nível organizacional que não afete as famílias católicas no dia a dia, mas abra espaço em seus orçamentos de forma voluntária e sem causar grandes dificuldades.
Os desafios serão significativos, mas serão superáveis se cada um compreender, em sua consciência religiosa, que chegou a hora de consolidar nossa igreja para sempre, ancorando-se na obra espiritual.
Assim como Maria de Fátima nos alertou sobre as mudanças no mundo, somos convocados a começar as mudanças em casa, para que ela nos acolha adequadamente e represente nossas crenças e essência.
Devemos nos voltar para o essencial e nobre que está dentro de cada um, sem medo de um Deus punitivo, mas com a certeza de um Deus amoroso que anseia por ser louvado em um espaço renovado.
A igreja não pertence ao Bispo ou Padre, ela nos pertence a todos, e cabe a cada um contribuir para torná-la mais acolhedora.
Pois, no fim das contas, o verdadeiro legado de um povo em sua espiritualidade está em quanto ele se dedica à causa difundida por Jesus.
É essencial nutrir um amor por Deus e lembrar sempre de quem está ao nosso lado, oferecendo-nos a oportunidade de sermos anjos através das nossas ações.
Ter fé não basta, é preciso agir, e a ação mais nobre é aquela que impacta positivamente o próximo.
Pois, no final, seremos avaliados não apenas por nossas ações, mas também por nossas intenções, colhendo aquilo que semeamos.
Que a mensagem inspiradora desse grandioso projeto alcance os corações de todos os católicos de Flor da Serra do Sul e nos faça perceber que é possível superar esse desafio, desde que cada um contribua de acordo com suas possibilidades, não por obrigação, mas por consciência da importância desse passo.
Desejamos força e coragem para aqueles que atualmente assumem o desafio de liderança, em particular o Padre Oldemar Weber e o Conselho Administrativo encabeçado pelo dinâmico Casal Ederson e Ana Paula Dal Magro.
Este grupo de visionários, juntamente com os demais conselheiros, desempenha um papel crucial na continuidade deste projeto monumental, seguindo os passos daqueles que o conduziram no passado.
Chegou a hora de se unir nessa empreitada que fortalecerá nossa fé, demonstrada através de orações e ações solidárias impactantes.
Um Sonhador Caminhando com Francisco - Escritor do blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/
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