
Porém, a vida nem sempre segue o plano que esperamos, e as dificuldades muitas vezes se colocam no caminho. O protagonista, um senhor magro com o rosto marcado pela catapora, via seu desejo de ter um acesso melhor a sua casa ser dificultado por um rio, uma serra e uma curva pedregosa. Mesmo sem ter um veículo, ele e sua família enfrentavam diariamente os obstáculos para chegar em casa.
A modesta residência proporcionava pouco conforto para a numerosa família, porém, o casal sabia o valor do trabalho duro e da dedicação. As alegrias escassas vinham dos momentos compartilhados em família, onde um gole de pinga e um cigarro de palha entre pais e filhos geravam sorrisos e aconchego.
Além disso, as orações do terço e as programações das rádios de Francisco Beltrão durante o dia, e à noite, as ondas curtas do Rio Grande do Sul e São Paulo, completavam o cenário familiar cheio de amor e união.
Conheci profundamente essa família, compadres e fregueses de meus pais, pessoas de integridade exemplar e cidadãos cumpridores de seus deveres. Mesmo diante das dificuldades, mantinham sua honra e orgulho, mostrando que a verdadeira riqueza está na retidão de caráter e na união familiar.
Nesta narrativa, o que mais me encanta foi a batalha incansável desse corajoso homem em busca de uma ponte e uma casa nova. Ele lutou com todas as suas forças para realizar seu sonho, vendo a ponte ser construída e a casa em construção, mas o destino, talvez o plano divino, não permitiu que ele visse sua obra concluída.
Relembrar essa narrativa me causa uma profunda melancolia, ao contemplar a figura de um trabalhador humilde, íntegro e laborioso, que dedicou sua existência à manutenção de sua família.
É doloroso constatar que ele não pôde usufruir de um direito tão elementar como um lar digno e uma aposentadoria justa, uma vez que os agricultores se aposentavam então com apenas metade do salário mínimo.
Lembro-me com carinho das conversas animadas e cheias de significado com meu pai, onde brincavam sobre serem enterrados próximos no cemitério.
Esses momentos eram carregados de existencialismo, mas sempre enaltecidos pela forte amizade e conexão. Inclusive, incluíram o nono Pedron nesse plano peculiar, cuja história será contada em breve.
Por um giro surpreendente do destino, ele partiu antes de meu pai. E quando chegou a hora do meu pai nos deixar também, minha mãe fez questão de honrar aquele desejo tão especial, garantindo que ele descansasse ao lado de seu grande amigo para continuarem suas conversas e amizade, mesmo após a morte.
Com a morte do patriarca, a família seguiu seus próprios caminhos, os filhos se casaram e a casa foi sendo erguida lentamente. No entanto, mais uma vez o destino surpreendeu a todos quando a matriarca sofreu um AVC e perdeu a locomoção, mas não a sua vitalidade de uma italiana falante e animada.
Sua irmã, hoje octogenária, também compartilhava dessa mesma forma de se expressar, sempre otimista mesmo diante das dificuldades. É admirável como ela conseguia encontrar forças em meio a tantas adversidades, provavelmente vinda de uma fonte divina.
Sempre costumava passar por aquela casa anualmente, para coletar produtos agrícolas e, mais tarde, para visitar e apresentar minhas propostas como candidato a Vereador.
Era recebido calorosamente naquela humilde residência, onde não era raro encontrar melões e melancias à disposição.
Uma lembrança marcante que guardo dessa querida senhora é vê-la sentada no chão de sua casa em construção, rodeada de frutas em um dos cômodos futuros. Naquela tarde, desfrutamos daqueles sabores deliciosos enquanto trocávamos ideias e sorrisos, envolvidos pela aura positiva daquela alma magnética.
Outra memória que vem à mente é quando ela chegou para votar, mesmo debilitada. Sua atitude mostrava seu comprometimento e cidadania, características próprias dos grandes espíritos.
Mesmo diante de adversidades, ela irradiava simpatia e empatia, qualidades que hoje em dia parecem estar em falta. Ela deixou para trás um legado de grandeza, não material, mas sim de amor e respeito à família e ao próximo.
Após a partida do casal, os familiares permaneceram por mais um tempo na propriedade, especialmente o filho mais novo, que concluiu a casa e fez melhorias significativas.
No entanto, buscando uma vida melhor para sua nova família, acabou vendendo o lugar e mudando-se para a cidade, onde já morava sua irmã mais nova. Curiosamente, eu e sua irmã compartilhamos uma ligação profunda, nascidos no mesmo dia e ano, além dela ser afilhada de crisma da minha querida mãe.
A filha mais nova sempre foi extremamente dedicada, trabalhando arduamente para uma família da Vila por anos e sendo adorada pela minha mãe como se fosse sua própria filha.
Após passar em um concurso municipal, tive a sorte de tê-la como minha secretária durante meu último mandato como Prefeito.
Sua dedicação e confiança eram incomparáveis. Infelizmente, nos afastamos um pouco com o tempo, em parte devido às complexidades da política. Ela seguiu seu caminho, criando seus filhos com amor e dedicação.
Hoje, os vejo de longe e fico feliz em constatar que estão honrando suas raízes e seguindo os exemplos dos queridos avós. Ela é uma mulher forte e admirável, e seus filhos são a prova viva disso.
Na esfera familiar, a irmã mais velha, também como comadre de minha mãe, é uma mulher cujas características e comportamento lembram muito de sua mãe. Sua alegria contagiante e dedicação ao trabalho são admiráveis. Infelizmente, perdi o contato e acredito que atualmente resida em Francisco Beltrão.
O irmão mais velho, por sua vez, é um funcionário da Prefeitura que segue os passos da família com a determinação de construir um legado que homenageie seus amados pais.
Já a outra filha vive na linha Pedra Lisa e atua na agricultura. Ela possui um serenidade cativante e uma postura sempre pacífica. Ao lado de seu esposo, forma uma família que segue a tradição e os valores herdados de seus pais.
Uma das filhas do meio decidiu se aventurar pela agitada capital paulista em busca de novas oportunidades, mesmo sendo jovem. Com habilidades domésticas adquiridas com sua querida mãe (culinária, limpeza, crochê...), ela conseguiu conquistar um lugar destacado em uma família que a contratou, vivenciando uma experiência familiar incrível.
Todos os anos, ela retorna para sua cidade natal, em um ciclo contínuo. Chegou, até construiu uma casa próxima à sua irmã mais nova, a quem ajudou a criar seus filhos com uma qualidade de vida melhor.
Contemplar essa família é como mergulhar na simplicidade e na tradição, características marcantes das raízes italianas que ainda resistem ao tempo. Embora a mudança seja inevitável em muitos aspectos da vida moderna, é essencial preservar a essência que nos conecta ao passado e nos guia para um futuro mais brilhante.
Ao observar as mulheres desta família, é evidente o toque único e criativo em cada refeição preparada com esmero e tempero especial. Os pequenos detalhes, como os guardanapos e tapetes de crochê feitos à mão, e a impecável limpeza e decoração da casa, refletem o zelo e dedicação que permeiam cada cantinho. Os jardins floridos são o toque final que encanta e acolhe todo visitante com a beleza e harmonia que só a natureza pode proporcionar.
Escrever esta narrativa é mergulhar em um passado nostálgico, repleto de simplicidade e trabalho árduo. Era uma época em que o tempo livre era escasso, preenchido com música no rádio e momentos de descanso antes de mais um dia de labuta.
O romantismo permeava o ar, numa dança suave e envolvente, em que as letras melosas retratavam sonhos e realidades. A batida ritmada convidava as mentes a viverem plenamente cada instante, longe de alienações ou superficialidades.
Nesses tempos, as conquistas materiais não tinham tanto valor quanto os princípios e ideais que carregávamos conosco. O importante era a construção de algo maior, de algo genuíno. Não havia desânimo diante das derrotas, apenas a determinação de recomeçar e dar sentido à vida.
Assim, essa era uma época marcada pela autenticidade, pela busca contínua de significado e realizações verdadeiras. Uma era onde a essência do ser humano se sobrepunha às superficialidades e onde a simplicidade e a honestidade tinham um papel central.
Agradeço de coração a essa incrível família que esteve ao meu lado em tantos momentos importantes. Mesmo que a vida tenha nos separado um pouco, guardo com carinho as lembranças de um passado que marcou nossas vidas.
Principalmente o casal, que enfrentou desafios enormes, sonhando com uma vida melhor, uma casa digna para viverem confortavelmente e proporcionarem um futuro promissor aos filhos, ensinando-lhes valores importantes.
Apesar de todas as adversidades, a fé e espiritualidade sempre estiveram presentes nessa família. Ainda assim, fica a incógnita: por que, após tanta luta e sacrifício, os frutos desse trabalho não puderam ser desfrutados? Talvez um dia, em outra dimensão, consigamos entender.Para nós, que seguimos adiante, resta-nos aprender com a história e trilhar nosso próprio caminho, absorvendo os aspectos positivos das experiências alheias.
Um Sonhador Caminhando com Francisco - Escritor do blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/
Obrigado! Logo brindarei vocês com historinhas infanto-juvenil também da vida real, além de continuar com as narrativas da Vila do Povo Feliz e os textos reflexivos. Que bom ter você meu anjo! Nessa nova etapa de minha vida. Fique com Deus...
Adoro ler as histórias da vida real, obrigada Paulo.