O mundo contemporâneo pode ser comparado a um palco frágil, onde dançamos como "palhaços e equilibristas", eternamente desafiados pelo fio tênue da existência. A música de Eliz Regina ecoa como um lembrete poético de que, no fundo, todos buscamos a harmonia em meio aos extremos que nos cercam. Mas, como alcançar o equilíbrio quando somos, ao mesmo tempo, os agentes e vítimas do desequilíbrio?
Vivemos em tempos de excessos: poder, dinheiro, espiritualidade dogmática, ideologias inflamadas e julgamentos impiedosos. Esses excessos ressoam como notas fora do compasso, gerando desarmonia nas relações humanas e sociais. Quando o desejo de acumular prevalece sobre o desejo de ser, transformamos o palco em um campo de competição implacável, onde o status e a riqueza desequilibram as bases do respeito e da igualdade.
Por outro lado, as faltas – de amor, tolerância, respeito e compreensão – são como silêncios onde deveria haver melodia. Em sua ausência, a humanidade se desentende, os conflitos se multiplicam, e o sonho de uma convivência mais justa soa cada vez mais distante.
Entre o excesso e a falta, estamos nós: finitos, imperfeitos, temerosos. Somos movidos pela avareza, escondidos atrás de máscaras, presos ao apego e assombrados pela busca ilusória de imortalidade. Cada um desses "defeitos" desafina nossa composição interna, dificultando o acesso à paz e ao equilíbrio.
É nesse cenário que se coloca a eterna dicotomia entre "ter" e "ser". Enquanto o "ter" nos enche as mãos de posses e as vitrines de conquistas, o "ser" nos convida a mergulhar na profundidade do que somos. Encontrar a nota certa entre esses dois mundos é como atravessar uma corda bamba – exige coragem, foco e um olhar honesto para a própria alma.
Talvez a música nos ensine que equilibrar-se não é permanecer estático, mas aprender a dançar sobre o fio. É uma prática constante de autoconhecimento, uma busca por autenticidade e um esforço contínuo para transformar desequilíbrios em aprendizado. Cada passo em falso, cada tom desafinado, é uma oportunidade de ajuste, uma lição de harmonia.
O equilíbrio, no final das contas, não é um destino, mas uma jornada – uma dança delicada que desafia o caos e busca criar um mundo onde, mesmo em meio aos extremos, possamos encontrar o compasso do coração.
Afinal, como diz a canção: “O show tem que continuar.” Que possamos dançá-lo com leveza, integridade e propósito.
🙏 Um Sonhador, Caminhando com Francisco
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