
Ao longo do tempo, os pais têm trilhado uma jornada repleta de amor e inspiração, tal qual José de Nazaré, o pai adotivo de ninguém menos que Jesus. Sua paternidade ultrapassava os laços biológicos, sendo alimentada por sonhos e visitas angelicais. Com uma confiança inabalável no caráter de Maria, ele sabia que sua missão era criar e proteger aquele que se tornaria o salvador do mundo.
No entanto, como um ser humano sensível, ele deve ter sentido dores existenciais e solidão, questionando seu propósito e o seu papel no mundo. Assim como o José do poema de Drummond "Agora, José?", podemos imaginar as reflexões e angústias que afligiram esse pai excepcional. O exemplo de José nos ensina que o amor e a dedicação paternos são capazes de superar qualquer obstáculo e construir um legado inestimável para a humanidade.
José, você transcendeu a força e a bravura, em uma perfeita harmonia como na melodia doce e aveludada de "Meu Bom José" na voz envolvente de Rita Lee. Ela destacou suas virtudes como carpinteiro, um ofício que esculpiu o caráter do seu filho, sem jamais conduzi-lo ao exílio. Pelo contrário, você optou por ser um pai exemplar, transmitindo valores e compartilhando sua própria profissão com ele. Sua espiritualidade atingia camadas tão profundas que parecia emanar diretamente do firmamento celeste.
Claro, você também enfrentou dificuldades como pai junto com sua Maria. Lembra-se do dia em que seu menino, aos 12 anos, se perdeu da caravana durante a festa tradicional judaica em Jerusalém? Foram três dias angustiantes de busca até encontrá-lo no templo, imerso em orações e discutindo sobre assuntos divinos. Não foi um ato de rebeldia ou rejeição, mas sim um encontro formal para definir os rumos futuros de sua jornada terrena.
E como nós, pais "Josés" do presente, enfrentamos a paternidade? É desafiador nos identificarmos com José nesses tempos contemporâneos, onde tudo é efêmero e passageiro, como descreve o filósofo Bauman. Não há segurança, não há certezas; tudo desaparece instantaneamente. Antes, havia o olhar nos olhos, as palavras dos pais eram inquestionáveis, as orações a mesa, o diálogo familiar nos dias de inverno em frente ao fogão à lenha. Hoje, a verdade normalmente se fragmenta em informações, o diálogo e a oração se tornaram virtuais. Antes, havia matinês, bailes, filmes de Teixeirinha, cartas. Agora, temos Netflix, Facebook, Instagram, Whatsapp.... Ser pai não está sendo fácil, mas não devemos ficar apenas presos à nostalgia, afinal, os tempos mudaram.
Podemos não concordar com tudo, mas é necessário encontrar soluções. Precisamos ser um pouco mais como José, amar com compreensão. O escritor americano Gary Chapman oferece várias abordagens em seus livros sobre linguagens do Amor para melhorar nossos relacionamentos com nossos filhos.
Que possamos transcender as expectativas e nos tornar filhos e pais exemplares, porque como diz o sábio ditado, verdadeiramente aprendemos o significado de ser filhos quando nos tornamos pais e compreendemos o verdadeiro significado da paternidade quando somos agraciados com a maravilha de sermos avós.
Neste capítulo da minha vida, sou agraciado com a oportunidade de desvendar os segredos da paternidade como avô. Que a sinfonia do amor e a melodia do diálogo prevaleçam sempre na delicada dança entre pais e filhos, e que o mundo seja preenchido com exemplos inspiradores como o de José, se liberando das sombras que nos acompanham.
Um Sonhador Caminhando com Francisco
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