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HISTÓRIAS DA VILA DO POVO FELIZ (18): FAMÍLIA PAZOLINI

Atualizado: 21 de fev.


Na década de 60, impulsionados pelo otimismo contagiante que envolvia a encantadora vila do Povo Feliz, eles se despediram da pacata região de Descanso, em Santa Catarina, como ousados peregrinos em busca de um destino promissor.

Ancoraram em nossas terras com uma determinação inabalável, prontos para tecer uma história magnífica que daria ainda mais glória às suas batalhas árduas e incansáveis na jornada pelo êxito.

No começo, as coisas não foram nada fáceis. O casal e seus filhos deixaram a vida na agricultura para se estabelecer em um espaço urbano, e essa transição exigiu uma dose de criatividade. Inicialmente, eles investiram juntamente com um parente, em um açougue que, funcionou por um tempo, onde hoje é o Correio da Cidade. Foi uma oportunidade de negócio que a comunidade precisava, mas à medida que a família crescia, era preciso diversificar as atividades.

Foi então que o patriarca, um homem de baixa estatura, porém com uma energia contagiante, juntamente com sua esposa de voz poderosa e descendente de italianos, encontraram uma solução para gerar renda e empregabilidade para toda a família.Esse talentoso carpinteiro, digno de José, o Pai Terreno de Jesus, colocou suas ferramentas - o martelo, o serrote, o prumo, o esquadro, o metro e o lápis - para construir casas durante um período áureo, quando a madeira dos pinheirais estava em alta demanda devido à expansão agrícola e ao grande número de serrarias.

Ao longo do tempo, com a evolução das técnicas de construção de casas. De simples edificações de madeira, passaram a adotar um estilo misto, exigindo que a família aprendesse a arte de assentar tijolos e rebocar paredes. E para realizar essa nova empreitada, convocaram ajuda de um sobrinho/primo vindo de Descanso - SC.

Ele foi fundamental na construção do legado dessa família promissora, e até hoje podemos encontrar vestígios desse período. Um exemplo disso pode ser encontrado na minha antiga casa, onde morava com meus pais e irmãos, em um banheiro com um detalhe intrigante no reboco. Ali, está inscrita a marcação "Grêmio 1980", feita antes da grande vitória desse time que se tornou um dos maiores do Brasil e une apaixonadamente os corações dos sulistas. Mesmo sendo torcedor do Internacional, sinto um profundo respeito pela nação tricolor.

Assim como todas as outras famílias da charmosa Vila, os anos 80 foram marcados por lembranças tristes para nós. Aos poucos, muitos moradores partiram em busca de novas oportunidades.

O sobrinho/primo que havia chegado mais recente decidiu se estabelecer próximo ao litoral de Santa Catarina. Guardo com carinho uma memória especial desse período. Além de ser um talentoso construtor, ele também se aventurava a ensinar matemática para minha irmã, que enfrentava dificuldades no sexto ano.

Entretanto, mais tarde, já no resplandecente Município, essa família optou por recrutar um sobrinho/primo adicional, irmão do construtor e do ensinante de matemática para auxiliar nas empreitadas da construção civil.

Contudo, surpreendentemente, esse parente acabou por se transformar em um verdadeiro expoente de inovação na indústria da panificação, bem como na produção ímpar de chimia e vinho.

Mesmo após sua aposentadoria e com suas filhas já asseguradas em empregos estáveis no setor público, ele continua a cultivar essa habilidade por prazer, sempre aplicando seu talento em criações de alta qualidade.

O inspirado Patriarca e sua prole, após a materialização de inúmeras moradias e aviário, lançaram-se em seu empreendimento de proporções magnânimas: a construção do Hospital de Palma Sola, uma obra monumental que exigiu anos de dedicação incansável.

Com a fundação do Município, esses habilidosos construtores agora liderados por um dos filhos, transformaram-se em profissionais audaciosos, dedicando-se com empenho à edificação de diversas obras.

Foi a partir desse marco que eles também deixaram sua marca na história, realizando a primeira obra relevante no Município: a ampliação do Colégio Estadual Barão do Rio do Branco e a construção do Posto de Saúde e, durante o meu primeiro mandato, a biblioteca, os Centros de Idosos (Cidade e Tatetos), a sede da Assistência Social, barracões Industriais...

Ao longo da minha trajetória política, alguns membros dessa família foram de extrema importância, ajudando-me em momentos cruciais que me permitiram chegar mais longe com as minhas propostas e ideais para a cidade que estava se desenvolvendo.

Infelizmente, como tudo na vida é passageiro, alguns seguiram em frente ao meu lado e enquanto outros optaram por trilhar caminhos que consideraram mais ideais para seus propósitos. Isso é algo normal e inerente à democracia, e eu os respeito por isso.

O filho mais novo dessa incrível família foi nosso vizinho em duas ocasiões. Lembro-me de sua bravura e ao mesmo tempo angústia ao iniciar sua jornada empreendedora recém-casado, embarcando em uma aventura constante em sua icônica Brasília vermelha, percorrendo cidades e vendendo peças de bicicleta.

O rapaz só tinha a chance de retornar aos aconchegos do lar nos sagrados dias de descanso, quando, às vezes, enfrentava os impiedosos desafios mecânicos e seus infortúnios com os amaldiçoados cabeçotes. Foi com meus próprios olhos que testemunhei o modesto início dele em um terreno, na qual trocamos propriedades, e lá ele comerciava artefatos esportivos.

Tive o privilégio de ser parceiro dele na prefeitura durante seu primeiro mandato, onde procuramos fomentar o comércio e a indústria local com grandes incentivos, aproveitando a época em que a LRF ainda não ditava regras e a legislação era mais condescendente no que dizia respeito a concessões. 

Uma de nossas ações que o auxiliaram foi a aquisição de diversos jogos de camisas em um projeto ambiental que desenvolvemos. Foram várias ocasiões em que trabalhamos juntos, construindo possibilidades para o crescimento de nosso local.

Durante o meu segundo mandato, ele conseguiu obter uma perspectiva mais ampla sobre a importância do nosso Poder Público. Compreendeu que não se trata apenas de comprar coisas, mas sim de implementar políticas de desenvolvimento, melhorar as estradas e espaços urbanos e garantir renda para as famílias.

Essas atitudes personificam o estilo de vida perfeito que ele, sua esposa e filhas adotaram, demonstrando assim seu amor por este lugar cujo significado é revelado de maneira sutil através da orquídea delicadamente protegida na árvore no canteiro central em frente à sua residência e comércio.

No entanto, o caminho nem sempre foi repleto de bênçãos. Enfrentaram obstáculos, como uma doença que afligiu esse empresário e pai. No entanto, graças a sua fé inabalável, ele conseguiu superá-la.

Foi assim que pode testemunhar o brilho estelar de sua filha, a primeira Dra. da nossa cidade, na área acadêmica, e ter a oportunidade de ver seus netos crescerem.

Quem sabe um dia também poderemos ver o sucesso do seu projeto criativo relacionado à higiene e saúde pública, desenvolvido em parceria com o Sebrae.

Sou profundamente grato a esse casal extraordinário. Eles estiveram ao meu lado nos momentos gloriosos e nos mais difíceis, sempre estendendo a mão para ajudar.

Embora tenhamos nos distanciado um pouco hoje em dia, as lembranças desses momentos preciosos nunca se apagarão da minha memória.

Nosso relacionamento foi marcado por uma recíproca assistência mútua e respeito por coisas grandiosas e gestos simples, especialmente em relação à minha amada mãe.

Eles sempre estenderam suas mãos para apoiar nas batalhas eleitorais e participaram ativamente comigo do conselho administrativo da igreja.

Outro dos filhos desse casal, que tenho um enorme apreço por ele, e cada vez que nos encontramos é um verdadeiro momento de felicidade. Ele é alto o suficiente para jogar basquete, mas possui uma simplicidade e carisma que realmente encantam.

Sua paixão pelo Grêmio cria uma atmosfera harmoniosa onde quer que ele esteja. Além de ser um habilidoso pedreiro, também se aventurou em empreendimentos como um bar, uma discoteca e até mesmo um conjunto musical, onde seu filho brilhava com maestria na gaita.

Uma personalidade brilhante que iluminou meu percurso, ele sempre se prontificou a auxiliar, mesmo nos momentos mais desafiadores.

Lembro-me claramente do acidente que ocorreu durante a construção da casa que acolheu nossa família por tantos anos, ou das vezes em que enfrentou complicações decorrentes de um acidente envolvendo seu filho mais novo ou até mesmo no fatídico acidente que ele e seu irmão mais velho estavam presentes, cuja história relato em uma das narrativas da encantadora Vila do Povo Feliz.

Mesmo diante das adversidades, ele e sua amada esposa nunca se abateram, mantendo-se fiéis aos seus objetivos de vida.

Hoje em dia, eles alternam entre sua casa na cidade e o sítio, e têm um dos filhos que trabalhou comigo na administração do município morando ao lado.

Acredito que a aposentadoria está prestes a acontecer, para dar ao meu querido amigo o merecido descanso. Sem dúvida, ele contribuiu muito para tornar o nosso “pequeno mundo” em um lugar mais pacífico.

Já o único colorado da família, também, tive a sorte de contar com a amizade dele e de sua esposa, um casal muito especial, que mesmo distanciados dedico grande respeito.

Sua esposa, em particular, teve um papel fundamental na vida da minha filha mais velha, sendo sua primeira professora e contribuindo significativamente para o seu desenvolvimento e personalidade.

Ela dominava o poder das letras como ninguém, uma mestra da alfabetização. Apenas lembrar de seus pais e irmãos desperta um sorriso instantâneo. Sua mãe, uma doce senhora, carregava um nome tão grandioso quanto o lendário romance de Verona. Já seu pai, com sua pele avermelhada, irradiava uma aura de italiano autêntica.

Tenho uma vaga lembrança da filha mais velha da família e do genro, que vieram morar por um breve período na Vila. Ele exercia a profissão de eletricista, e juntava-se a nós, crianças, quando jogávamos rebatida na porta da marcenaria do seu Werno ou no campinho da escola. Infelizmente, aquele foi um momento de decadência para a Vila e ele logo retornou à sua terra natal.

Curiosamente, uma das minhas primeiras paqueras foi uma das irmãs dela! Foi uma incrível coincidência que nos permitiu compartilhar juntos a conquista de uma medalha de 1º lugar em um concurso de redação estadual, ainda durante nossos anos de Ensino Fundamental II.

Esse momento realmente deixou uma marca indelével em minha habilidade de escrever, e jamais esquecerei que ela era a única colega ambidestra que já conheci. Era genuinamente impressionante como ela dominava a escrita com ambas as mãos, apesar de preferir a esquerda.

Hoje, observo essas pessoas de longe, algumas vivendo no Rio Grande do Sul, um deles carrega o apelido do maior astro do futebol. Apesar de não ser exímio jogador, acredito que o simbolismo é o que importa, já que seu nome de batismo é o mesmo do rei do futebol.

Enquanto isso, a professora que agora está aposentada deve estar desfrutando da vida e demonstrando toda sua brilhante capacidade de evangelização como Ministra da Eucarística.

Não posso esquecer de suas batalhas, indo a pé para dar aulas na Escola Pio X na Linha Pedra Lisa, um início de carreira que teve uma pequena intervenção da minha adorada mãe.

Mesmo que a vida tenha nos separado, minha admiração e respeito não diminuíram, pois foram construídos com intensidade e desapego, sempre buscando fazer o melhor, mesmo que muitas vezes foram incompreendidos.

Já o filho mais velho, um ser versátil, trilhou diversos caminhos antes de encontrar sua verdadeira vocação no comércio. Mesmo após tantos anos, ele continua firme na atividade, enquanto seus filhos seguem seus próprios rumos.

Ao lado de sua esposa, ele desfruta do prazer de observar o movimento do lugar em seu amado bar, ao mesmo tempo em que se sente grato pela saúde da companheira, que foi posta à prova em inúmeras ocasiões.

Recordo-me das campanhas de doação de sangue, em que nos reuníamos e usávamos a Kombi do Pedro Pagliari para ir ao Hemocentro em Francisco Beltrão, para recompor o banco de sangue.

Dentre todos os membros dessa família, sem dúvida alguma, foi esse tricolor quem se destacou no esporte. Ele foi o goleiro do saudoso Botafogo da Vila, fazendo defesas brilhantes em um campo de terra cujas áreas eram cobertas de farelo de madeira para suavizar o impacto.

Hoje em dia, eu o avisto quando passo pela rua em que ele mora. Muitas vezes, ele está lá, olhando pela janela, provavelmente relembrando os momentos difíceis que enfrentou na vida, mas também se alegrando com as lembranças dos momentos maravilhosos que fizeram cada desafio valer a pena.

O casal que deu vida a essa grande prole também teve a bênção de trazer ao mundo um uma menina e posteriormente um par de gêmeas que trouxeram ainda mais brilho para esta família composta até então apenas por homens.

A primeira menina sem dúvida foi uma verdadeira celebração na família, trazendo consigo uma sensibilidade incomparável e um vínculo afetuoso com sua mãe. Acompanhei de perto seu percurso estudantil e vida social, até o momento em que ela se casou ainda jovem.

Hoje, ela está mergulhada no mundo dos negócios, após ter passado anos vendendo enxovais como autônoma.

Seu marido, por sua vez, é um habilidoso mecânico, reconhecido em toda a cidade. Ele chegou aqui quando era apenas uma vila, para trabalhar ao lado de seu saudoso irmão, que era um mestre na arte da moldagem de ferro.

Inicialmente, ele experimentou trabalhar como Operador de Máquinas, mas rapidamente percebeu as oportunidades que a Mecânica Pesada poderia oferecer. Decidiu então se especializar nesse nicho de mercado e, até hoje, continua atuando com maestria nessa área.

Um fato que tenho lembrança foi quando nasceu minha primogênita, esse casal poucos dias depois também receberam a dádiva do nascimento de seu primeiro filho. Ambas as crianças nasceram saudáveis, mas infelizmente, o menino enfrentou um problema cardíaco que foi descoberto pela mesma pediatra que cuidava de minha filha.

Graças à sua capacidade de fazer um diagnóstico preciso e rápido, conseguiram agir imediatamente. Foi necessário fazer várias viagens a Curitiba e, finalmente, uma cirurgia bem-sucedida.

Lembro-me vividamente de como tínhamos poucos veículos disponíveis na área da saúde da cidade, então acabamos usando o carro oficial do gabinete para o transporte. No final, tudo deu certo, graças a Deus, hoje ele é um talentoso profissional em sua área de atuação.

No final da década de 70, o nascimento de duas meninas, foi um marco inesquecível na Vila, onde o nascimento de gêmeos era incomum. Eu me lembro claramente desse momento.

Elas cresceram sendo cuidadas com zelo tanto pelos irmãos e pela irmã, bem como pelos pais, tornando-se belas jovens que tive o privilégio de ser professor no Ensino Fundamental 2 e no Ensino Médio.

Uma delas, durante meu primeiro mandato, foi uma leal companheira como funcionária, dedicada e exemplar. Infelizmente, nos deixou jovem demais, deixando um vazio enorme nos corações de seus familiares e daqueles que a admiravam.

Às vezes, não compreendemos os desígnios de Deus. Muitas vezes, olho de longe as mensagens lindas de sua irmã, relembrando a sua presença. É evidente que uma parte dela se desprendeu, mas, ao mesmo tempo, ela sabe que a vida deve continuar.

Atualmente, ela mora próxima aos pais idosos e trabalha em uma empresa na cidade, além de guiar sua filha rumo a novos horizontes - ela foi colega de turma da minha filha no Ensino Médio.

Em relação aos pais, ela entende que a proximidade física exige um cuidado ainda maior, uma vez que eles estão mais velhos e necessitam não apenas de cuidados físicos, mas também do afeto e carinho para aqueles que lhes deram a vida, principalmente de seu pai, que já enfrentou inúmeras batalhas de saúde, vencendo todas graças ao seu estilo de vida regrado e sua serenidade diante das adversidades.

Foi um prazer imenso contar a história dessa família tão querida, mesmo que alguns detalhes tenham ficado um pouco imprecisos. Isso me fez relembrar momentos maravilhosos que vivemos juntos, hoje um pouco mais distantes, mas jamais esquecidos.

Afinal, aqueles que nos fazem bem sempre terão um lugar especial em nossos corações. O passado não se apaga, apenas ameniza as incongruências, nos permitindo avaliá-las de forma a vivermos o presente de forma plena. Nossa busca constante pela unidade e pelo amor nos guiará até o último dia, quando deixaremos nosso corpo e entregaremos nosso espírito.


Um Sonhador Caminhando com Francisco - Escritor do blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/

 

 

 

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28 ene
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Muito trabalho e fé, modelos a serem seguidos...

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