
Aqui, os grandes batalhadores sempre enfrentaram desafios com garra, determinação e inovação. E entre todas as Marias que habitaram essa vila, faço questão de destacar essa viúva, que criou seus filhos com imenso zelo, educando-os e provendo-os com suas habilidades culinárias diferenciadas.
Na década de 70, seus pasteizinhos e canudinhos eram famosos em todos os aniversários e, principalmente, nos jogos do nosso amado Botafogo no Campo de Futebol. Com uma cesta cuidadosamente entrelaçada nos braços, Dona Maria carregava o fruto de seu trabalho, que não apenas sustentava sua família, mas também enchia o ar com um aroma irresistível.
Sinto como se pudesse até me transportar para aquele tempo, cheirando os deliciosos pasteizinhos e canudinhos, sempre acompanhados por uma refrescante laranjinha. E os bolos, ah, os bolos! Muitas vezes recheados com um creme colorido pelo famosíssimo Ki suco.
Essa mulher de voz potente não se deixava intimidar por qualquer problema, enfrentava os desafios de frente e buscava de todas as formas proporcionar aos seus filhos as melhores condições de vida. Sua força e inteligência eram inspiração para todos nós, tornando Dona Maria uma verdadeira heroína desta Vila do Povo Feliz.
Tive a sorte de cruzar caminhos com essa incrível mulher e sua família. Eles eram clientes regulares de meus pais, e tive a oportunidade de conhecer sua filha na escola, enquanto seu filho mais novo tornou-se meu parceiro em aventuras adolescentes. Ele era mais velho que o resto de nós, mas sempre se esforçou para manter uma ótima relação com todos.
Além disso, também tive o prazer de conhecer o filho mais velho, que era um talentoso artista gráfico. Desde cedo, essa família teve que enfrentar a ausência do pai, mas a mulher guerreira que era essa mãe assumiu ambos os papéis com maestria, criando filhos exemplares que ainda hoje deixam um legado admirável.
Lembro-me particularmente bem da minha colega de escola, que era uma aluna fenomenal em português. Existe uma memória engraçada em que estávamos competindo em um jogo de palavras em que eu estava na equipe rival. A palavra que estávamos tentando escrever era "gasolina", e acabei cometendo um erro ao escrevê-la com "z". Ela, por sua vez, acertou em cheio, obtendo ponto para a equipe dela e fazendo com que eu nunca mais errasse a grafia dessa palavra.
Por sua vez, o filho mais jovem optou pela carreira de mecânico, cujas habilidades mencionei anteriormente na história dos mecânicos da Vila do Povo Feliz. Foi através de um comentário da dona de um salão de cabeleireiro que descobri a fama desse rapaz como o melhor dançarino de valsa da região. Curiosamente, ele também era um membro ativo do CTG e um dos primeiros a abraçar a ideia de preservar essa tradição, unindo-a à sua paixão pela mecânica.
Além de compartilhar amizades, tive o privilégio de dividir uma república com ele nos anos 80, chamada "100 comentários" – nome que ele registrou em uma placa de identificação. Na época, ele trabalhava em uma empresa de construção que estava asfaltando a estrada de Francisco Beltrão a Itapejara do Oeste.
Apesar de morarmos em Francisco Beltrão, todos nós mantínhamos um vínculo semanal com nossa querida Vila. Ele, com toda sua criatividade e embarcado em seu estiloso Fusca 1.200 - verde, fazia questão de retornar à Vila para animar os jovens nos jantares dançantes organizados no Pavilhão da Igreja Local ou em festas de aniversário.
Como um DJ à moda antiga, ele era eclético na seleção de músicas: tocava de Júlio Iglesias a Serranos, sempre se adaptando ao gosto do público. Lembro-me de um jantar em que sua tia, uma senhora de meia idade e considerada muito culta, pediu-lhe para tocar "Total Eclipse Of the Heart", da Bonnie Tyler.
Não foi apenas a música em si que me chamou a atenção, já que estava fazendo sucesso na época, mas também a iniciativa daquela senhora em escolher uma música que conectava com os gostos dos jovens.
Hoje percebo que a cultura não está limitada à idade, mas sim à capacidade de observar cada momento e vivê-lo de acordo com o que nos faz felizes. Pensar fora da caixa não é ser lunático, muitas vezes significa estar mais avançado e enxergar o que muitos não conseguem ver. Com o tempo, a verdade se estabelecerá. Nesse sentido, a evolução é fundamental, pois ao nos prendermos às tradições, deixamos de evoluir e enfraquecemos nosso legado.
Após um tempo, esse jovem voltou e decidiu abrir seu próprio negócio. Por um período, seu irmão o acompanhou nessa empreitada, mas devido às limitações da Vila em que vivíamos, ele optou por voltar à sua antiga atividade.
Hoje, vejo o filho mais velho e sua irmã morando na região Oeste de Santa Catarina, cheios de energia, com os filhos encaminhados e acredito aproveitando a fase de serem avós. Também vejo o mecânico que também consegui formar as filhas, que seguem suas profissões com sucesso e em breve será avô, uma verdadeira dádiva de Deus.
Essa família sempre será lembrada pela coragem de sua mãe, que infelizmente já nos deixou. Com sua simplicidade, ela marcou profundamente a todos nós, produzindo produtos de qualidade e oferecendo-os de uma maneira única. Seu trabalho lhe permitiu sustentar sua família e criar seus filhos.
Atualmente, a existência continua a fluir para cada um de nós e a preservação de um legado vai além de meras obras grandiosas. Jesus Cristo personifica esse fenômeno, com seu nome ecoando até os dias de hoje e atraindo uma legião de seguidores. Surpreendentemente, ele não deixou para trás obras tangíveis, mas sim um manancial de exemplos e reflexões que ecoam em sua profundidade e alcance.
Às vezes, a eternização de um legado está em coisas simples, como um pequeno galpão ou um carro antigo que marcou uma época e estilo. Também está nas discussões respeitosas nos bares, onde as opiniões fluem naturalmente e deixam sua marca, mesmo que nem sempre sejam compreendidas.
É graças aos corajosos que ousam enfrentar visões ditatoriais que as coisas melhoram e colocam tudo em seu devido lugar. Em uma sociedade democrática, todos têm o direito de ter voz, mesmo que ela seja divergente da maioria.
Com imensa gratidão aconchegada no meu coração, recordo-me com carinho dessa família que construiu inúmeras lembranças. É com júbilo que rememoro os dias de simplicidade e felicidade que vivíamos, mesmo quando a falta de recursos nos impedia de abastecer nossos veículos e nos obrigava a buscar alternativas criativas.
Assim, decidimos transportar um gracioso fusca verde sobre uma imponente F-350 vermelha, com o emblemático Pico Falinski ao nosso lado, como um farol acenando para quem cruzasse nosso caminho. Desse modo, mostramos que, mesmo diante das adversidades, a genialidade é capaz de transformar os obstáculos em histórias inesquecíveis.
Um Sonhador Caminhando com Francisco - Escritor do blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/
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